domingo, 28 de novembro de 2021

A Franca surpreendente e seu basquete centenário

  A primeira coisa que precisamos dizer é que este não é um trabalho científico, ou seja, é apenas ilustrativo, portanto não carece de comprovações, mas acho que vai ficar bom. Sempre que escrevemos sobre Franca nos referimos a ela como uma cidade ‘surpreendente’, e em muitos aspectos. 

No café, lutou e luta com essa nobre agricultura, planta que pode dar bons lucros ou péssimas surpresas, dependendo da sensibilidade climática. Tenha uma conversa com qualquer produtor e terá histórias de alegrias e tristezas, certamente com muito mais alegrias.

Mas, como medir a importância desse grão para Franca? É só buscar no site da COCAPEC, que tem matriz na cidade, conta com mais de 2.000 cooperados, exporta para o mundo todo e teve em 2020 mais de R$ 1 bilhão de faturamento. No ranking do Jornal Valor Econômico (SERASA/FGV), subiu mais de 100 posições em um ano, e é hoje a 589a empresa brasileira. 

Pelo calçado, o último levantamento tido como oficial é de 2011, ou seja, tem mais de 10 anos, em outra busca, vimos que a cidade tinha em 2019, 14,4 mil empresas, com 24 milhões de pares produzidos. Não é pouco, mas não dá para comparar com anos históricos. 

Sabemos que sofre com a concorrência mundial, principalmente a chinesa, além de outros países orientais, mas também foi notória a expansão da indústria em outros setores de vestuários.

Por outro lado, a ABICALÇADOS informou que, na indústria calçadista em São Paulo, apesar de ainda estar 12,9% inferior ao ano passado, foram gerados até outubro 27,8% mais empregos este ano, comparando com o mesmo período em 2020. As exportações também reagiram uma média de 30% no mesmo período.

Um ramo que explodiu nos últimos 10 anos é o imobiliário, difícil encontrar um estudo sobre esse boom, mas é notório o avanço. Primeiro vendo os condomínios, loteamentos e edifícios lançados, depois pelas notícias do que vem por aí.

Historicamente Franca ‘escolheu’ a expansão horizontal em detrimento da vertical (edifícios), houve um período em que a legislação inibiu muito essa verticalização, por outro lado nota-se que há um esforço da própria administração municipal para regular e motivar essas expansões.

De qualquer forma, a cidade está entre as que dão impressão que ‘não terminam’, é grande e está crescendo, principalmente modernizando seus bairros.

Na educação, além de ótimas escolas de iniciativa privada, temos dois ícones municipais, as Faculdades de Direito (FDF) e a UNI-FACEF, Centro Universitário Municipal de Franca. Ambas são autarquias, ou seja, ligadas à Prefeitura, mas com referências nacionais. 

Sabemos que a UNESP tem também um bom curso de Direito, área muito escolhida por estudantes vindos de fora, principalmente com opção pela FDF, e a UNIFRAN o seu curso de medicina

Já pelo comércio, temos que levar em conta que, por não ter muita opção em shoppings, há uma especialização das lojas genuinamente francanas esparramadas pela cidade, este é um comércio pujante. O Magazine Luíza, orgulho francano, está fora do concurso, não só pelo seu tamanho, mas também por seu forte destaque nacional.

Essa pujança vale para a culinária, restaurantes, sejam por quilo, ou não, com muitos destaques, gostamos do La Finestra, pela qualidade e variedade, mas o restaurante Feijão com Arroz acaba de conquistar um prêmio, esse Filé de Pescada com Vatapá entra na nossa linha de preferência!

Em termos de qualidade de vida e desenvolvimento, há um estudo que coloca Franca em 6.o lugar no Índice de Desenvolvimento da Gestão Municipal (IDGM), entre os 100 maiores municípios brasileiros. O estudo, que foi feito pela MacroPlan, coloca a cidade em 9.o lugar do país em educação, 14.o em segurança e 2.a em saneamento, não são números para serem ignorados.

No recém publicado Ranking de Competitividade dos Municípios, trabalho que tem o apoio da Frente Nacional de Prefeitos, Franca detém um curioso e honroso 1.o lugar em telecomunicações e está em 4.o lugar em saneamento, sempre no topo, independente da forma de análise. No geral subiu 20 pontos, para ser a 46a cidade do país.


Basquete centenário


No esporte a Francana está muito certa, não adianta se endividar, não tem campeonatos que motivem uma equipe montada, o compromisso com folha sempre é caro, sem público não há rendas e menos ainda interesse de patrocínio pelas grandes redes. Vejo que há um grupo se movimentando no clube e essas pessoas estão de parabéns.

Agora o basquete, que não deve sofrer menos com sua folha, é outra história, por sua visibilidade há interesse pelo marketing, e a interação com o SESI é uma benção. No Brasil não tem nenhum clube na história desse esporte que esteve tantas vezes nas finais de campeonatos, combinando o estadual, o nacional e até o internacional, como o Franca. 

E isso não é bem de agora, eu tinha dúvida, agora não tenho mais nenhuma, o nosso basquete já fez mais de 100 anos de glória, Davi Carneiro Ewbank, um aficionado dos esportes na cidade, é comemorado como ‘o primeiro técnico do basquete francano' em 1917, depois vêm Demétrio Soares e Cirino Goulart, na década de 1930, e o querido Pedroca a partir de 1960, que ninguém esquece.

Em 1930, Demétrio Soares, comandava um time da Associação Atlética Escola Profissional, que era considerado “um dos melhores esquadrões de todo o interior do Estado”.

Em outra versão, desta mesma história, há um registro de que, entre 1928 e 1930, a Escola Francana de Cultura Física - EFCF, um time  masculino formado, nasceu e encerrou suas atividades invicto. "Elevou extraordinariamente o nome esportivo da Franca, sendo citado em inúmeros órgãos da imprensa desportiva do País”, diz uma reportagem da época. 

Entre os nomes mencionados estão Cirino Goulart, Fisico, Alfredo Costa e... Chico Cachoeira, claro, pai do nosso trio de ferro, os 3 metralhas, Hélio Rubens, Totô e Fransérgio. 

Temos também o registro, nessa mesma linha de tempo, do time de basquete feminino da mencionada EFCF - que lutou, inicialmente, “com a falta de adversários”, aí fizeram algo inédito, formaram duas equipes e estabeleceram uma rivalidade com “acirradas disputas", algo como criar dois “Clube dos Bagres”, pode? 

O francano, que gosta tanto que seu basquete faça 100 pontos, já viu seu time fazer 100 anos, precisamos colocar esse selo na camisa do clube.

Parabéns pelos seus 197 anos Franca, faltam três para o seu bicentenário, vamos comemorar e muito!


Dia da Consciência Cristã

Sempre que o Verdade me convoca para um artigo, se não for para falar sobre a história de Franca, é certo que vem um desafio por aí. O último foi sobre o Dia das Mulheres, quando abordei que, para escrever sobre elas não podia ficar no trivial ‘amor e flor’, dei o exemplo de muitas que têm até três turnos e de algumas avós, que além dos três turnos, cuidam também da estabilidade da família. Parece que conseguimos, já demos umas voltas pela praça Barão, em Franca, e aparentemente ficou tudo bem. Rsss.

Agora é sobre o Dia da Consciência Negra, a princípio pensei ser impossível, principalmente porque as abordagens de conceitos e preconceitos estão em ebulição e transformação pelo mundo. Acabei aceitando o desafio, e aqui estamos.

O primeiro pensamento, e quase cai nessa armadilha, seria mencionar o enorme número de amigos de todas raças, inclusive negros, que temos e sempre tivemos ao longo da vida. 

Nossa… se eu tivesse feito isso, estaria estabelecendo uma diferença, primeiro que não há, segundo que eu me colocaria de um lado e pessoas maravilhosas, com qualidades espetaculares,  do outro. Nem pensar.

Mas, mesmo assim, não ia deixar de contar um causo, como diriam nossos queridos amigos mineiros, que tive com um negro maravilhoso, um ícone de minha infância, nos idos anos de 1960. Nesta época eu fazia incursões pela Fundação Allan Kardec, na rua José Marques Garcia, onde morávamos, a cerca que separava de minha casa, bem ao lado, era de bambu bem velhinho, fácil para uma criança passar.

Daí era só atravessar pela horta e chegar ao lugar que mais gostava de estar nesta casa, depois do cinema do Sr. Chico Cintra, claro, na oficina do senhor Francisco, conta a lenda que ele era filho de ex-escravizados e teria ficado no Allan Kardec por não ter para onde ir. Naquela época era muito comum isso ocorrer, com os pacientes que estavam de alta, não se encontrava ninguém da família para buscá-los.

Olha, nunca me interessou a sua origem, sei que era uma pessoa simples, sem sobrenome, que fazia alças para canecas em latas de óleo, entre outros objetos, e me encantava com sua filosofia singela, suas estórias e um ótimo humor. Ele teve que ter paciência comigo, não saia de lá!

O que isso tem a ver? Nada, não é a primeira vez que eu homenageio o senhor Francisco, porque ele era Sô Chico, um poço de sabedoria.

Quando somos crianças não estabelecemos diferenças, elas, muitas vezes, são moldadas por nossa própria família, em casa mesmo, no que chamo de cultura inversa, aí entra de tudo, política, tem que pensar igual ao pai, ainda bem que isso está acabando, e todas as demais preferências, onde começam a serem montados os conceitos e os preconceitos. 

Acredito, sinceramente, que o mundo está evoluindo, mas é só assistir algumas séries e filmes históricos para entender que isso é universal, e em alguns casos muito graves. Infelizmente as notícias que envolvem preconceitos ainda permeiam os noticiários. 

Na verdade, no Brasil, nós convivemos bem com ‘todo mundo’, mas nunca perdemos a chance de falar dos baianos (preguiça), dos cariocas (folgado), daí você vai viver em um desses estados e vê que não é nada disso, são provocações e jocosidades por culpa de algumas características desses locais, isso também é globalizado.

Já sei, estou fugindo do assunto, mas vamos lá

Tudo que tenho visto sobre desigualdades e racismos atualmente são estruturais, não é a questão do feio ou do bonito, até porque a beleza transita, e bem, por todas as raças. Chamamos de estrutural a que foi e é imposta pelas oportunidades, é isso que vem sendo discutido, aquela que privilegia ao longo do tempo. 

As quotas tentam resolver isso e ajudam, claro, mas não resolvem todas as diferenças sociais. Quem notou isso claramente foi o Magazine Luíza. Teve crítica? Qual atitude dessa área não tem? Eles viram que a sua estrutura de ascensão aos cargos de chefia bloqueava os negros,  e ousaram, fizeram um programa de trainee só para eles - foram 22 mil inscritos e 19 escolhidos, o dobro de contratação que se imaginava. 

O programa foi recentemente relançado, o número de inscritos quer dizer algo? A par das críticas, valeu pela coragem e mais ainda pelo resultado, o ML foi lá e contratou, é diferente das campanhas de marketing, que fazem isso com modelos ou colocam casais bonitos para vender. 

Na entrevista das páginas amarelas da Veja, desta semana, o economista canadense David Card, um dos três ganhadores do Nobel deste ano, fala sobre um estudo racial que fez em empresas no Brasil em 2018, determinante nos salários dos não brancos, como ele denomina. 

O resultado que ele chegou não foi muito diferente do estudo que fez o Magazine Luíza, entendendo que a estrutura social de base é determinante. Faltam mais oportunidades para os negros, como também faltam para as camadas mais simples da população.

O economista se mostra um pouco desanimado com ‘estudos’, diz que só mapear não resolve, e conclui, que tem que se investir nessa base, sugerindo que as mudanças, principalmente as comportamentais,  devem ser motivadas com os mais jovens, para que o resultado seja maior no futuro.

Ou seja, para mexer com a nossa consciência, em um assunto tão importante, não basta só acreditar em oportunidades pontuais, a desigualdade é péssima e faz separações inaceitáveis. Pelo lado otimista vemos que hoje se estuda e se discute muito mais sobre isso.

Pelo lado humano, cristão, tivemos um grande exemplo, teve algum líder mais inclusivo que Jesus? Ele combateu e deixou mensagens contra as segregações. É só ler o recado que enviou aos fariseus, no Sermão dos Ais, e quem, para ele, era o próximo, na parábola do Bom Samaritano. Sempre defendeu as crianças, as mulheres e os mais simples. Todo seu discurso sempre permeou pela fraternidade e pela igualdade.

E perante Deus? A imortalidade da alma e o julgamento divino são quase unanimidade nas religiões. E o que estará em análise no nosso pós morte? O corpo, suas composições e o que juntamos certamente ficam por aqui.

Concluímos então que, o que sobrevive no fluído universal é a nossa consciência, certamente seremos julgados pelo nosso comportamento como seres humanos, daí pouco valerá se era brasileiro, árabe, judeu chinês, branco, negro ou amarelo.

Daí o nome deste artigo, vamos ter uma consciência cristã, só assim poderemos ter realmente uma igualdade de oportunidades, sejamos brancos ou negros.