sábado, 27 de abril de 2019

Notre-Dame e o Gótico (DV-47)

A primeira vez que ouvi uma referência ao estilo gótico, foi que a paróquia Nossa Senhora das Graças tinha essa inspiração em sua arquitetura. Revendo, concluo que sim, se ela não tem em sua planta o estilo arquitetônico puro, tem naves, arcos quebrados e a altura, com a luminosidade inspirada em vitrais.
A expressão gótico começa aparecer em 410, como fosse um estilo dos godos, gente simples, algo como - uma arte popular se contrapondo à imperiosa românica, mas ainda muito rústica.
Esse movimento ganhou força próximo aos anos 1000, as cidades estavam se tornando mais cosmopolitas, as igrejas migraram do rural para o urbano, abandonaram a semelhança com castelos e fortes, que representavam o estilo românico.
Um clarão após a obscuridade da Idade Média, com algo mais moderno e iluminado. A luz representa o Divino, decreta o abade francês Suger (1081-1151), além dos com grandes vitrais, há a busca do céu, com a verticalidade, ele constrói a pioneira basílica de Saint-Denis.
Começam a ser construídas durante os anos 1200 as grandes catedrais no estilo gótico, de Colônia e Florença, mas que só ficariam prontas séculos depois. 
Mas o princípio já estava estabelecido, com mudanças sociais, filosóficas, artísticas, políticas e econômicas, exaltando o simbolismo e trazendo a capacidade da evolução matemática para os cálculos da engenharia arquitetônica. Estudiosos apontam que esses construtores também inspiraram a maçonaria.
Houve uma melhor distribuição dos pesos dos arcos para “fora”, com colunas altas, saindo do princípio único de paredes grossas e pilares, para uma divisão em três naves, fez com que o interior das igrejas ficassem mais leves, mais altos e mais iluminados nesse estilo.
A inacabada Catedral de Beauvais exagerou com seus 48 metros de altura, causou um colapso do transepto, aquela asa que dá o sentido de cruz para o templo. 
O gótico torna-se moda a partir de 1350, ganha estilos semelhantes, é o decorativismo, o gótico tardio e o flamejante, quem visita Portugal certamente vai conhecer o estilo manuelino (Dom Manuel I - 1500), é impulsionado no mundo pelo Renascimento italiano. A Sagrada Família (1882-x) em Barcelona, do arquiteto Gaudi, começou com o neogótico, mas deu uma guinada para a arte decô catalã.
A mística Notre-Dame (1163) é um esplendor do gótico, reúne o que há de mais importante do estilo em sua planta, ia descrevê-la, mas vou deixar que Victor Hugo o faça:

"E a catedral não era só companhia para ele, era o universo; mais ainda, era a própria Natureza. Nunca sonhava que houvesse outras sebes que os vitrais em perpétua flor; outra sombra que a da folhagem de pedra sempre brotando, carregada de pássaros nos bosques de capitais saxões; outras montanhas do que as colossais torres da igreja; ou outros oceanos do que Paris rugindo aos seus pés.”

Foi isso que queimou.

Referência: 47.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 27/04/2019 - (DV-47)

Observação - houve uma adaptação de tamanho no local da publicação e, por consequência a redução do artigo, acima está o original.







domingo, 14 de abril de 2019

Jornal de papel (DV-46)

Quando o Pinati me convidou para escrever para o Diário Verdade, rememoramos muitas coisas, uma delas foi quando “dormi” no jornal Diário da Franca, onde rodava um periódico calçadista, fiquei uns 3 dias cheirando tinta, que legal. As rotativas naquela época estavam cada vez maiores, tanto que a frase - Parem as máquinas!, foi até tema para filmes. Representava interromper a impressão, trocar a manchete e seguir em frente.
Hoje a digitalização e a virtualização estão preponderando, mas confesso, mesmo lendo manchetes de notícias pela Internet, minha orientação diária, o chamado logo cedo, tem que ser com jornal… de papel. Como isso é um assunto avassalador, como os efeitos da inteligência artificial, vou deixar isso para os próximos capítulos e para os mais novos, fico com o espírito de clube da saudade.
Na coluna no primeiro Verdade, em 15 de abril do ano passado, contei um pouco desse fascínio pelo jornalismo, pela análise e pela crônica, disse que foi uma herança do meu pai, e, como se trata de ato voluntário, representa uma tocha que ele ascendeu nos anos 1930 e estamos cá mantendo quase 90 anos depois.
Duas coisas nos inspiram hoje, em 7 de abril comemora-se o Dia do Jornalista e, no dia 15, um ano de vida do Verdade, que bom continuar aqui, todos os sábados.
É errônea a afirmação de que Sócrates foi contra a linguagem escrita - que avançava, e que preferia a linguagem oral, o que ele realmente previa é que as poesias e os poemas escritos à época perderiam a força sem a improvisação ao serem recitados. Aquele tom que se ganha ao ler em voz alta, quando pausamos, respiramos fundo, olhamos longamente para a platéia e interpretamos dando nossa opinião. Isso a escrita realmente prejudicou, só grandes escritores conseguem efeito semelhante. 
É a exaltação da dialética, por vezes ouvimos que alguém não gosta de aplicativos, gosta de olhar no olho do vendedor, só estando próximos conseguimos medir as reações, nesse caso uma palestra é melhor que um livro, um show é melhor que um disco.
O problema não é nem de jornal ou livro impressos ou de uma palestra, mas sim a brevidade da Internet, as notícias estão diminuindo, valem mais as manchetes do que o conteúdo, o que se recorta disso faz nascer as fake news. É o fast vencendo o slow, o resumo sendo mais importante que o conteúdo, enfim, é o que temos para o agora e para o futuro, vamos nos adaptar?
De qualquer forma sempre brinco, enquanto gostar dos Beatles sou um jovem, mesmo beirando o setentão, mas vamos sempre sentir saudade do cheiro de tinta de jornal, e o grande prazer de ver horas e horas de esforço impresso em um folha de papel.
Parabéns pelo ano de vida meus caros amigos do Verdade.

Referência: 46.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 13/04/2019 - (DV-46)

sábado, 6 de abril de 2019

Do outro lado do espelho (DV-45)

Termina, cercada de fortes emoções, mais uma novela “espiritualista" da Globo, a Espelho da Vida, tendência que já se acentuou há anos, sendo esta a nona envolvendo, se não vidas passadas, a presença de espíritos interferindo no nosso cotidiano.
Imaginei que a trama estaria envolta mais em regressões do que em reencarnações, mas foi o inverso, houve um só caso de regressão, no resto foi um clássico momento de uma vida tentando reparar a outra.
Estive muito tentado em comentar os fenômenos de seu desenrolar à luz do espiritismo, vontade que passou rapidinho, primeiro que - se fosse o caso, lógico - ouviria dos autores, é pura ficção. Por outro lado revisei a questão de competência mesmo, procurar, localizar e comentar o Livro dos Espíritos em fatos de uma obra ficcional . Desisti legal.
Até fiz uma analogia, seria como pegar uma obra do nível de Star Wars, ou mesmo de Game of Thrones, e analisar o que seria ilógico nas suas estórias, a primeira série, como todas as outras do gênero, tem o tempo e o universo à sua disposição e extraterrenos convivendo pacificamente, às vezes. Já na GOT, que infelizmente acaba esse ano, tem dois dragões, eles são filhos da bonita e misteriosa personagem Daenerys Targaryen. Sim, filhos!
Em Espelho da Vida dois personagens viveram o passado e o presente, um em destaque, André Luiz (Emiliano Queiroz), certamente uma homenagem ao espírito que ditou a obra Nosso Lar, que virou até filme, é filho do casal principal Julia Castelo (Vitória Strada) e Danilo (Rafael Cardoso). O mistério que o envolvia, de aparecer e desaparecer, certamente foi um tempero a mais para uma obra de ficção, longa. Esteve ótimo, como toda a novela.
Já as personagens Julia Castelo e Cris tinham entre si um espelho e um teletransporte, quase uma licença da série Outlander, que também já comentamos, onde a personagem visita o passado num ritual nos misteriosos círculos de pedras escoceses e nem transita pela reencarnação.
A série é ótima, essas pedras têm 4 mil anos de existências, com histórias e muitas estórias, algumas realmente de viagem no tempo. Essa me chamou a atenção, um turista pegou um pedrinha dessas e levou para casa, passado um tempo o Escritório de Turismo de Inverness recebeu uma caixa com a pedra e uma carta anônima em que ele contava que a pedra havia amaldiçoado a sua vida e a sua família, em uma série de acontecimentos terríveis que teriam acontecido. Ele não tinha coragem de voltar a Clava Cairn para devolvê-la, e dizia, “Eu sei que vocês provavelmente estão rindo de mim, mas enquanto riem, vocês podem por favor colocar a pedra de volta no lugar?”. 
Para ler o artigo na íntegra busque Vida na Escócia, da Anelise, o nosso artigo A Globo e os Espíritos está no nosso blog.

Referência: 45.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 06/04/2019 - (DV-45)


segunda-feira, 1 de abril de 2019

Gol de Placa (DV-44)

O gol da semana certamente não é nem do Gustagol, nem do Gabigol, é de Franca que há décadas reivindica voos diretos a partir de seu aeroporto. 
Como passado é minha praia, já vou lembrando o embate que o saudoso prefeito Maurício Sandoval Ribeiro teve com o aeroclube francano, que não queria desocupar o velho aeroporto para que fosse viabilizado o Distrito Industrial. Muitas reuniões, muitas mesmo, nada de acordo. Foi preciso a intervenção da Aeronáutica brasileira para que, por fim, os diretores aceitassem um imóvel no centro da cidade, uma casa onde funcionava o SANDU,  e o direito de uso do novo aeroporto, o atual. A encrenca no fato de a entidade ter um imóvel no aeroporto velho, contra um direito de uso, no novo, o imóvel no centro da cidade resolveu o problema.
A previsão da GOL é que os voos se iniciem no segundo semestre, está em um acordo do governo paulista com as aéreas, no qual há uma redução no ICMS da querosene com a contrapartida na ampliação da grade dos pontos não atendidos com trechos diretos, principalmente para a capital. Além de Franca, que os releases oficiais apontam como “importante polo industrial calçadista”, atenderá também Barretos, tanto pela Festa do Peão, como pelo Hospital do Amor, uma referência nacional no tratamento do câncer.
Certa feita voei com um diretor da Passaredo, ele me explicava que o caro na aviação é o pouso e a decolagem, gasta muito combustível e pesa fortemente na planilha de custos, de onde vem o lucro ou prejuízo. Contou que o fato daquela companhia ter comprado jatos da EMBRAER para os voos regionais foi um erro, esses pequenos aviões gastam como gente grande e se não tiver uma frequência de, no mínimo, 40 pessoas no fluxo - entrando e saindo da aeronave, é contabilizado um prejuízo. Desfizeram do leasing dessas aeronaves, voltaram para os turboélice e amargam com tais prejuízos até hoje. Devemos torcer muito para que a Passaredo se torne uma grande empresa, ela garante voos importantíssimos para Guarulhos (internacionais) e Brasília, onde tudo acontece.
O secretário estadual de Turismo, Vinicius Lummertz deixa um recado, "Agora, precisamos trabalhar juntos para criar o hábito do transporte aéreo nas comunidades desses municípios, bem como em seus entornos”. O  que realmente segurará o voo direto de Franca para São Paulo será o número de passageiros, se isso for um número vermelho numa planilha certamente acontecerá como com outras tantas linhas que desaparecem do nada.

O custo, terá papel determinante, sendo um voo regional  o preço da passagem também precisa ser convidativo. Outra coisa a se analisar serão os trajetos para voos internacionais, se o francano preferirá ir a Ribeirão Preto para pegar voo direto para Guarulhos, ou se, indo para Congonhas, terá um rápido translado para lá, quase impossível pelo trânsito e distância.

Referência: 44.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 30/03/2019 - (DV-44)