segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O Dilúvio (DV-39)

Deus criou o universo e as leis da natureza (Gênesis 1:1)

Sábado passado me reportei aos vitais 4 Elementos, que incluem, claro, a Água, também transitei meu estudo pela Bíblia onde li sobre as grandes tragédias, mas deixei-as de lado, tanto pelo encaixe, como pelo espaço. Naquele momento entre inúmeros fenômenos deparei-me com dois que envolvem a natureza, o Dilúvio dos dias de Noé e a Seca em Israel.
No caso específico do Dilúvio, Jeová (Deus) já havia avisado Noé “há décadas” que ele ocorreria, por isso deu tempo para construir uma enorme arca, nunca encontrada, nenhuma evidência científica para o fato.
Por outro lado, de forma prática para os tempos atuais, prestei atenção à uma fala de um professor sobre essas “revoltas" da natureza, ele diz que - independente do que venha ocorrer por consequência do aquecimento global, a história e as estatísticas explicam que esses processos de longos períodos de calor, inverno, seca e chuva, ainda que demorem décadas para se repetirem, são completamente normais.
O problema então está na nossa ocupação da Terra, incêndios naturais podem até ser benéficos para o solo, mas causam vítimas, onde há neve não é diferente, mas já se acostumaram com o seu ciclo.
No caso de Franca é que a cidade está na rota de uma passagem fantástica de água. Fenômeno semelhante ao de Bauru, onde a Av. Nações Unidas se torna um bolsão quando tem muita chuva. Pensam em canalizá-la, fazendo um rio artificial subterrâneo, para depois bombear para o rio natural. Custo? Nem imagino.
Ribeirão levou anos estudando suas enchentes e concluiu que o maior problema estava no encontro de dois córregos, quando chovia muito a força da água de um lado impedia que a outra passasse, promovia a primeira enchente, logo esse problema ocorria no outro canal também. Em dias de muita chuva, considerando que o alto volume já vinha de suas cabeceiras, ocorriam enchentes de até um metro e meio. Custo da obra executava? Equivalente a um orçamento anual da cidade, precisou ter financiamento federal, pelo PAC 1.
Em Franca os problemas parecem ser distintos, vendo as fotos e assistindo aos vídeos, e longe, muito longe de ser engenheiro, na av. Hélio Palermo seriam o volume e a velocidade com que a água chega. O canal já teve sua vazão aumentada, mas para fenômenos desse nível está claro que não é o suficiente, o que impressiona é como não causa vítimas humanas. É muito assustador.
Já pela av. Alonso y Alonso, onde, claro também tem correnteza, parece que problema é de vazão mesmo, a água chega em alguns pontos e se esparrama, mas já são apontadas erosões importantes no percurso.

O resumo é que estamos no caminho da natureza e de seus fenômenos, não é dilúvio bíblico e as soluções certamente não são fáceis e muito, muito caras.  

Referência: 39.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 23/02/2019 - (DV-39)

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Os quatro elementos (DV-38)

A pergunta é recorrente - quando vamos parar de chorar? 
Têm acontecido tantos fatos tristes que as redes sociais até encontraram uma relação das tragédias com os Quatro Elementos: o rejeito de Brumadinho à terra, as enchentes do Rio à água, o acidente do Boechat ao ar e o incêndio no Ninho do Urubu ao fogo. Essa teoria é atribuída aos filósofos gregos pré-Socráticos, mas a discussão é mais velha na China e na Índia, transitando pelo renascentismo é base para estudos filosóficos até hoje. 
O contraponto desse vínculo simplista é que esses elementos, pela visão natural, não representam a morte e sim a razão de estarmos vivos, tire qualquer um deles do nosso cotidiano e, aí sim, estaremos bem mortos.
E por falar em morte, lembrei-me de Steve Jobs e seu discurso histórico como paraninfo em uma formatura na Universidade de Stanford. É claro que, como espírita, a primeira coisa que vem à mente é a imortalidade da alma, isso pode amenizar, mas não afasta a dor da perda, é só ver a comoção que vive o brasileiro hoje.
Quando vamos parar de chorar?
A lembrança do fundador da Apple e sua reflexão sobre a vida e a morte, veio por ter sido ele um empresário bem sucedido que já sabia que não sobreviveria à uma doença. “Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há motivo para não seguir o seu coração.”
Nesse discurso premonitório ele sugere aos formandos para “viver cada dia como se fosse o último, porque um desses dias, vocês certamente estarão certos.”
Saber que os dias estão sempre contados foi muito importante para as suas grandes escolhas, disse o empresário, "todo o orgulho, todo o medo de constrangimento ou fracasso – essas coisas simplesmente desaparecem em face da morte, deixando apenas aquilo que é realmente importante”.
Ao afirmar que ninguém deseja morrer, novamente me lembrei do caso do Chico Xavier com a turbulência do avião, “(…) até as pessoas que querem ir para o Céu não querem morrer para chegar lá, e apesar disso, a morte é o destino que todos partilhamos. Ninguém jamais escapou”, falou Steve Jobs.
Está certo que a sua fala não se encaixa para às crianças que não tiveram a menor chance de raciocinar sobre a vida. Ele se dirigia à uma plateia de estudantes quase adultos com chance de fazer escolhas, ele assegura que a juventude é passageira e aconselha sobre o tempo: "(…) não o desperdicem vivendo a vida de outra pessoa. Não sejam encurralados por dogma, que é viver com os resultados do raciocínio de outra pessoa. Não deixem que o barulho das opiniões alheias abafe a sua voz interior, seu coração e sua intuição (…)”

Referência: 38.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 16/02/2019 - (DV-38)



sábado, 9 de fevereiro de 2019

A Bancada da Bala (DV-37)

Não sei bem o que fazer com o decreto que flexibiliza a aquisição de armas, certamente nunca vou usá-las, mas preocupa quando isso ocorre nas discussões bobas, principalmente as familiares e as de trânsito, há muitos precedentes.
Na história mundial tem poucos litígios resolvidos em paz, os muito antigos não foram na bala porque a pólvora ainda não tinha sido descoberta. O Brasil teve seus embates e Franca também.
Consta da história francana uma rebelião chamada Anselmada, referência ao seu líder, o capitão Anselmo, dezenas de outras iguais ocorreram no Brasil Império no vácuo de poder entre a abdicação de Dom Pedro I (1831) até a maioridade de Dom Pedro II (1840). 
O Brasil dividido em províncias não tinha uma uniformidade federativa, cada presidente de província nomeado fazia a sua política. Em São Paulo (1835) o brigadeiro Tobias Aguiar, edita lei que lhe permite nomear os fardados prefeitos das vilas. 
Para Franca, sem muito apoio, é nomeado, o sargento-mor José Joaquim de Santa Anna, seguem-se conturbadas eleições municipais, Anselmo que era vereador não se reelege e dois grupos acabam se estabelecendo, dos comerciantes, mais urbanos, e dos ruralistas.
O grupo no poder nomeia seus pares nos cargos importantes, na coletoria e no judiciário, inclusive o importante juiz de paz. Nessas turras até uma janela da casa da cunhada de Anselmo é fechada a pregos, desavença que quase acaba na bala, uma gota d'água. 
Ao nascer do Sol do primeiro dia de 1838, Anselmo, com 30 seguidores armados até os dentes, invade a pequenina Vila Franca, faz ameaças aos líderes, promete arrastar um amarrado ao cavalo, não era bem um feliz ano novo. Após muitas negociações ele recua, mas, nos meses seguintes, não só vê o tratado desfeito, como passa a ser acusado criminalmente, período de muita tensão. 
Diante de um mandado de prisão o capitão volta invadir a vila em setembro, agora com 74 homens, o fiscal da Câmara Clementino, ao intervir, é baleado, mesmo fim do cão de guarda do então juiz de paz Manoel Rodrigues Pombo. Depois de negociações tensas com vitórias para Anselmo ele se retira.
O presidente da Câmara, ao retornar, desfaz os acordos e organiza uma forte mas frustrada resistência, o conflito se intensifica resultando em mais mortes. O juiz Pombo, desafeto desde o barraco da janela vai às terras dos revoltosos (6/11) tentar um acordo, nunca mais voltou, deixou família com muitos filhos. Anselmo, autorizado, volta à Vila (9/11) com muito mais gente, há ainda alguma resistência com mortes, vereadores fogem  e Anselmo coloca seus aliados no poder.
Em 14 de março de 1839 a Vila Franca se transforma em Comarca, mas com o judiciário em Batatais, para tentar acalmar a coisa, o Capitão Anselmo e os demais líderes da revolta são ali julgados (15/11). Todos são absolvidos.




Referência: 37.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 09/02/2019 - (DV-37)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Na trilha do rejeito (DV-36)

Cresci ouvindo algumas coisas de bastante ufanismo, o Brasil tem a maior quantidade de água no mundo, maravilha, depois descobriram que não dá para colocar o rio Amazonas na nossa caixa d’água, e que o líquido processado é localizado, caro e escasso. Uma outra expressão  defendia que o país é abençoado não tem tsunami, terremotos, etc.
Esses sismos, seguidos de altas ondas, são frequentes no Pacífico, mas a história tem outros registros importantes, quem visita Lisboa certamente ouvirá dos guias o que ocorreu depois de um terremoto em 1755, seguido de incêndios e de um tsunami, mais de dez mil mortos. O fenômeno praticamente divide sua história, de antes e de depois desse abalo, consagrando o Marquês de Pombal - por tê-la reconstruído, como uma das grandes personalidades daquele país.
Nossos vizinhos chilenos perderam quase 6 mil pessoas no sismo de Valdivia, terremoto seguido de tsunami, mas nada se compara ao que aconteceu em 2004 no Oceano Índico, sudeste asiático, após um terremoto tsunamis em cadeia mataram 220 mil pessoas em 14 países.
A questão de morrer muitas ou poucas pessoas subestima a individualidade de uma mãe ao perder um filho, ou de qualquer um perder a chance da presença de um ente querido, todas as religiões procuram explicar isso, mas também defendem que Deus nos dá a vida para ser vivida por mais tempo e da melhor forma possível.
Acho que já mencionei aqui a defesa da vida que Chico Xavier fez à Emmanuel, seu espírito protetor e inspirador, ele conta isso com raro humor e muito exagero no Pinga Fogo, tem fácil no Youtube, um vento de calda que aeronave estava foi acometida, isso foi 1959 deslocando de Uberaba - Araxá - BH. Ele se declara com muito medo, envolvido pela gritaria no avião, também passa a gritar. Emmanuel chama sua atenção, questiona sobre sua fé, Chico diz que nessa hora o medo estava prevalecendo e continua a gritar, o espírito diz então para ele - Então morra com educação! Imperdível.
Então, e o nosso ufanismo de maravilhas motivadas na infância? Ok, não temos ações de malucos e terroristas atirando em escolas, terremotos e tsunamis. Mas e as drogas, violência e o feminicídio? Doenças endêmicas - febre amarela, dengue e suas parentes piores, malária, até a gripe anda matando. 
Nosso trânsito é desmedidamente mortal, isso vale mais para quem está nele do que para quem o organiza.

Resta-nos imaginar que Deus, grande construtor desse imenso Universo, que também é nosso criador e Pai, está sempre nos protegendo e amparando. Mas a inspiração dessas linhas veio da enorme tristeza que a tragédia de Brumadinho nos causou e ao mundo todo, não me cabe crucificar ninguém, também não dá para imaginar que alguém faça um refeitório na passagem da lava de um vulcão, ou de rejeito de minério, sabendo que isso vai ocorrer. Mas, como é voz geral, tsunami é causado pela força da natureza.

Referência: 36.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 02/02/2019 - (DV-36)