sexta-feira, 19 de julho de 2019

Autismo não é doença! (DV-58)

Sempre fui muito curioso com a capacidade de alguns autistas de potencializarem algumas qualidades cognitivas, como em registros de memórias, cálculos e a música, por exemplo, mas ficar só nisso é subestimar a luta de algumas famílias com os problemas comportamentais severos em alguns casos. 
O nome correto é Transtorno do Espectro Autista (TEA) e as habilidade extraordinárias que aponto também tem explicação, em parte, é a Síndrome de Savant, que ocorre em 10% nos casos leves.
Um dos personagens ficcionais mais famosos do savantismo foi de King Peek, no filme Rain Man (1988), interpretado magistralmente por Dustin Hoffman, ele tinha suas incapacidades, mas era capaz de decorar livros inteiros, listas telefônicas, entre outras enormes façanhas. 
Por outro lado, basta encontrar um blog sobre o TEA e vai verificar nos depoimentos das mães que não é fácil encontrar médicos que dominam o assunto, elogiam muito as entidades que as apoiam, mas a realidade é a mesma de outros problemas semelhantes, para ter um tratamento diferenciado dependem da rede particular e isso custa, muito, o mesmo vale no ensino, poucas escolas, poucos professores.
Um grande desserviço foi feito por um jornalista ao apontar que Messi teria TEA, combinado com uma outra síndrome, a de Asperger, que também ocorre em casos leves de autismo. Tanto o médico particular, como a família do jogador desmentiram veementemente.
Gosto muito de um vídeo, que reproduz parte de um best-seller do cientista Norman Doidge, por algo que não é novo, mas precisa ser mais estudado e mais estimulado, a neuroplasticidade do cérebro. Algo como fazer exercícios e estímulos para que sejam ativados neurônios “sãos" pra que venham em socorro das partes lesionadas. Isso é excelente e fundamental para pessoas acometidas com derrame, lesão por acidente, má formação, paralisia cerebral e… autismo. O vídeo chama-se Reconstrução do Cérebro, tem histórias de sucessos nesses tratamentos inimagináveis. 
Está nesse vídeo Pascual-Leone, que dedica boa parte de seu estudo para o autismo, um caso dele de sucesso que ganhou o mundo foi o de John Elder Robison (Asperger) que, com estímulos no cérebro, aos 40 anos, começou a entender porque as pessoas sorriam ou choravam. Ele diz em vídeo, “eu comecei a ver as pessoas por dentro”.


Referência: 58.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 6/7/2019 - (DV-58)

O nosso Russo (DV-57)

Renato Russo viveu 36 anos, fundou o Legião Urbana, foi um dos melhores letristas do rock brasileiro. Nada a comparar com Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Bosco, geração anterior à dele mas que também não escreviam para o rock, e nem com o clássico Tom Jobim, que permitam admitir fora de concurso. 
Chico Buarque venceu uma pesquisa informal entre as cantoras brasileiras, ele foi escolhido como o compositor que melhor entendeu a alma feminina. As entrevistadas disseram que cantavam suas músicas como elas as tivessem escrito.
Dos quatro o Gil é o que tem o maior swing, compôs músicas dançantes sem nunca perder o brilho e a qualidade das letras. Entre esses, eu diria que o mais complexo é João Bosco, faz um jogo de palavras com uma rapidez que, quando vamos ouvir a sua música, fica quase impossível de se acompanhar. Caetano mistura tudo isso, hehehe, é brilhante também.
Mas e o nosso Russo? Sua obra reflete um pouco de seu perfil solitário, aquele que, mesmo estando perto de muita gente, parece que está sozinho.
Na sua música mais ouvida a Mais Uma Vez, ele chega reclamar: "Tem gente que está do mesmo lado que você. Mas deveria estar do lado de lá”, aumenta o tom dizendo que são pessoas que não sabem amar, vivem nos enganando, gente que machuca os outros, e completa - "Se você quiser alguém em quem confiar. Confie em si mesmo”.
O desistir das pessoas em volta não é só um gosto pela solidão, mas também uma chamada de atenção para a depressão. É bom considerarmos que não estou fazendo análise psicológica, imagina, nem sempre a obra literária, principalmente em letras de música, apontam para o que autor pensa. Quem faz uma trilha sonora, ou musical que envolvam peças com letras, escrevem para o tema que está à sua frente, não para o que ele pensa.
Mas, no caso do nosso Russo, quem assistiu ao filme póstumo, ou acompanhou sua carreira, sabe de seu lado solitário quase depressivo, estado que, creio, todos temos que vigiar, o de que é melhor estar sozinho, fomos criados para viver coletivamente, mesmo com suas dificuldades.

De qualquer forma, fiquemos com sua obra, intensa e contestadora, foi um grande músico. 

Referência: 57.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 29/6/2019 - (DV-57)