domingo, 23 de fevereiro de 2020

O verdadeiro parasita (DV-89)

Tem algo que atua nas prestadoras de serviços do país que está ganhando força, pior que, pelo visto, está cada vez mais importante. Ele determina se o serviço anda ou não anda, ou seja, é ele que dá o ritmo para o que cada um deve ou não deve fazer.
Já houve casos que cheguei a duvidar do que ouvi, a culpa é dele está lento. Eu disse, como? Ele é lento e sou eu que tenho esperar? Não acredito. A mocinha desolada afirma, é… não temos o que fazer, ele é uma porcaria(?).
Já que não tinha mesmo o que fazer fui para o shopping, acalmar, tomar um capuccino e quem sabe curtir um filme, pensei no sul-coreano Parasita (Bong Joon-ho), que deu o que falar esses dias. Aliás, o ministro largou o termo com adjetivo para uma classe que, na sua grande maioria, luta para que os serviços sejam bem realizados para todos. Velha história de uma suposta minoria rotular uma categoria inteira, injusto!
Voltei na prestadora para ver se finalmente resolvia o meu problema, já era outra mocinha: - E aí, perguntei? Levei um susto… diz ela em tom solene, ele CAIU. E ninguém resolve? Não, só ele, quando cai dessa forma só no dia seguinte. Então foi grave, pergunto, ela diz que foi. Nessa altura não sabia se ficava com raiva por perder a viagem, ou se ficava com dó. Enfim centenas de pessoas foram afetadas pela queda dele. O que fazer?
Sinceridade, acho que o problema deve ser com a Previdência, deve estar fazendo operação padrão pela demora da aposentadoria - vai no local, fica no local, mas enrola com o serviço. A moça - Não meu senhor, acho que pegou um vírus, eu perguntei, virose? Me olha com desdém:  - não sei meu senhor, só me informaram que ele está com vírus, com qual eu não sei.
Tá bom, então eu quero falar com o diretor, agora fiquei bravo! - Não vai ser possível, para que isso ocorra nós também dependemos do SISTEMA. 
Então fica registrado, não deviam entregar todo o funcionamento para esse tal sistema, ele cai, fica lento, pega vírus e interrompe o serviço, pelo menos não escondem, tudo que dá errado que é culpa dele, do sistema.!


Referência: 89.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 22/02/2020 - (DV-89)

sábado, 15 de fevereiro de 2020

A menina que queria voar - (DV-88)

A menina Gisele vinha mergulhada em um monte de sonhos, mergulhada é força de expressão porque ela queria mesmo era voar. Aos 12 anos parava e pensava muito quando alguém perguntava - o que você vai ser quando crescer. Nas suas reflexões ela incluía algo que envolvia viajar… buscar outras plagas, conhecimentos, ainda que fosse muito nova.
E eis que um dia alguém aponta para uma carranca, jorrando água, e diz - se você beber dessa água nunca mais sai de Franca… Hein, como assim, que força tem essa água meu Deus. Pior que em seguida vem o decreto - e tem mais, se sair vai acabar voltando!
Parou para ler o que tinha na placa: "Esta é a água da careta, tão bela como nunca vi, quem beber desta fonte, nunca mais sairá daqui”. Vixe, é verdade, pensou.
Estava decidido, ela nunca ia beber daquela fonte, no imaginário infantil veio o temor de que, se bebesse todos os sonhos estavam interrompidos, estudar fora, ter a chance de morar em uma Capital, ainda que fossem sonhos acabou, bebeu, ficou!
Os mais antigos já sabem, eu falo da Água da Careta, um verdadeiro monumento que Franca teve na ponte da rua Voluntários da Franca, guardando as enormes proporções, tão querido como o Relógio do Sol, os versos são de José Ferreira de Linhares, premiado em um concurso realizado em 1956.
O que falar do pensamento da menina? Vamos fazer o inverso, publicamos fotos e referências históricas da Água da Careta. Sabe o que aconteceu? Dezenas de pessoas, com muita convicção, deram seus depoimentos contando que ficou em Franca porque bebeu dessa água, que foi embora mas voltou, outros não conseguiram voltar, mas não a esquecem e se sentem tristes da profecia não ter dado certo.
Se os adultos vivem essas ilusões, e bota romantismo nisso, porque não dar o direito a uma criança de pensar ao contrário? Que água pode ter o poder de me prender para sempre? Hoje ela se acha boba por ter pensado assim - “Eu não bebi dessa água e me arrependo!”, não concordo, sua história é muito mais impactante.

Esse depoimento é verídico, de Gisele Carvalho, está no meu Facebook e ela autorizou que eu contasse aqui. Incrível, muito incrível.






Referência: 88.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 15/02/2020 - (DV-88)

A música inglesa - (DV-87)

Se você, assim como eu, era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, está na crônica certa. Essa música é de 1968 gravada pelos Incríveis e Engenheiros do Hawaii. De qualquer forma os ingleses Elton John e Mick Jagger comandaram duas das maiores bandas já existentes na terra. 
The Beatles preencheu minha juventude, eu e o mundo todo os conhecemos depois de sua turnê pelos EUA, em 1964, quando se apresentaram na marquise do teatro Ed Sullivan. Por volta de 1966 assisti A Hard Day's Night: Os Reis do iê iê iê no cine Odeon, credo, todo mundo sentadinho, quieto, vontade de cantar junto, dançar, tinha 16 anos.
E por falar em marquise, não deixe de assistir Yesterday, de Danny Boyle (Quero ser um milionário), com Himesh Patel, que acorda em um mundo que ninguém conhecia nem os Beatles, nem a Coca-cola, imperdível.
Dois outros ingleses são protagonistas de filmes recentemente Freddie Mercury, com o seu Bohemian Rhapsody, e Elton John com o Rocketman, não assisti, mas vou. Se você ainda não viu o Bohemian prepare a caixa de emoção, se já sabe do que estou falando, espetáculo. Elton John tem uma música que sempre emociona Candle in the Wind, falo da adaptação feita para a princesa Diana, é de partir o coração. Mas dele gosto mais de Your Song. 
No rock inglês temos o Pink Floyd, The Who, Radiohead, Sex Pistols, Led Zeppelin e  o Queen, já mencionado. Mas não esqueçamos de David Bowie.
Muita gente vai ficar de fora, mas temos Adele, Ed Sheeran, Lilly Allen e a controversa Amy Winehouse, com sua salada ritmos, forte no R&B, no soul e no jazz, destaque para Back to Black e Rehab. 
Na playlist tem que ter Sting, Mark Knopfler, Phil Collins e Eric Clapton, principalmente este último com singles recordistas como a triste Tears In Heaven, que fez para o filho que perdeu em uma tragédia. 

Em tempo - Naquela época você não amava Beatles “e" Rolling Stones, tinha que escolher, só que não há registro de briga entre eles, coisa de empresários. Como disse Tom Wolfe (1965): Os Beatles querem segurar sua mão, mas os Stones querem botar fogo na sua cidade”.

Referência: 87.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 08/02/2020 - (DV-87)


sábado, 1 de fevereiro de 2020

A verdade nua e crua (DV-86)

A interlocução é um segredo importante no relacionamento, a forma de falar e de ouvir, a defesa da opinião pessoal e, principalmente, como o diálogo pode colaborar com o nosso cotidiano.
Em determinadas fases da vida, principalmente no início de um relacionamento, damos uma enxurrada de informações para que a outra pessoa se convença e entenda como você é. Fase importante, porque também começam os ajustes da convivência, a paixão inicial já está diminuindo e, pronto, somos só nós dois!
Parece que não, mas, entre os diversos fatores que podem frustrar um relacionamento está a forma que um se dirige ao outro, há a ilusão de que, ganhando uma discussão, o outro se conforma e te entende. Na verdade quem se frustra ou procura fazer algo pior, dizer coisas mais graves e agudas, ou, se não consegue, começa a diminuir o interesse na parceria.
Essa fase, apesar de aguda, é ainda tranquila, onde, através da discussão, o casal começa a definir do que gosta e do que não gosta na vida conjunta. Uma segunda, e essa tem que ser diuturnamente vigiada, é a da ofensa, uma escalada perigosa que, sabemos, nos casos mais graves provocam até a agressão física. Daí para o fracasso do relacionamento é um pulo, sem contar o risco de ocasionar consequências graves.
Uma recém formada em psicologia, na sua primeira palestra, disse uma coisa que nunca mais esqueci, nada supera o diálogo sadio, casais às vezes levam coisas para o túmulo e nunca dizem ao parceiro, na sexualidade, por exemplo - o que gosta e, principalmente, o que NÃO gosta, o que dá prazer para um pode ser extremamente frustrante para o outro. Isso vale para tudo.
Já um tia, quando recebeu nosso convite de casamento, disse algo também inesquecível - nunca fale uma coisa para o outro na qual você se arrependerá depois e nunca durma com um problema que pode ser solucionado hoje. 
É um bom exercício. 

Quer ver um exemplo de erro de comunicação? Chegando no shopping a esposa diz, acho que já vou comprar o vestido para a festa do mês que vem. O marido diz não e faz um contra argumento. O bico cai e nem com dez vestidos você superará a frustração do dia, é melhor voltar para casa. Rsss.

Referência: 86.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 01/02/2020 - (DV-86)

Tudo vale a pena? (DV-85)

Fernando Pessoa
        Meu pai foi poeta. Leonel Nalini cantou Franca em prosa e verso, conviveu com os demais poetas francanos, jornalistas e radialistas. Começou após a revolução de 1932, quando ganha a maioridade, próximo dos 20 anos, e nunca mais deixa de fazê-lo. Até 1984, ainda escrevia cartas para a Patrícia, sua eterna amiga. Nossa! 
        Além da cidade, gostava de exultar as pessoas, o amor, a dor, e a flor. Crítica? Não, adorava a frase dele quando respirava fundo e dizia - vai suspiro viajante, vai aos pés da minha amada.
Leoel Jr., Leonel Nalini, o autor do artigo
        Fui buscar para ele um verso do poeta português Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente. 
        A grande curiosidade da obra de Pessoa (1888-1935) foi ele subdividir as suas personalidades em escritores diferentes. Não carece analisar a sua obra como uma só, e nem devemos, o múltiplo estilo era proposital e assim deve ficar.
Lidou brilhantemente com isso, sua multi personalidade escondia-se na heteronímia, onde autores fictícios são criados para dar vazão a outros pensamentos, que não seriam do próprio autor.
        Efeitos assim, podem ocultar o Transtorno Dissociativo de Personalidade, é só assistir Psicose (Alfred Hitchcock ) ou Fragmentado, filme alucinante onde o personagem Kevin (James McAvoy) se dividindo em 23 personalidades com idades, gêneros e até doenças completamente diferentes.
        Não era o caso do poeta e não se tratava de transtorno e sim de uma maravilhosa opção autoral, veja como ele viu isso à época: - Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito? 
        Ícone de Pessoa a poesia Mar Português descreve os sofrimento do espírito navegador à época, os naufrágios para dobrar o cabo Bojador (Marrocos),  causando muitas perdas pessoais -  Ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal!
    Para que fosses nosso, ó mar! Quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar. Valeu a pena? Tudo vale a pena, Se a alma não é pequena.
Fechamos com a convicção de que realmente, se alma se eleva, em todos os sentidos, tudo que ela fará terá valido.

Referência: 85.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 25/01/2020 - (DV-85)