segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Jesus e a tolerância (DV-69)

Ao analisarmos a obra de Jesus, deixada por sua vida, renúncias, exemplos, falas e porque não, milagres, veremos que no fundo nos mostra que a existência é um grande exercício de convivência. Ao dizer sim para o amor, a caridade e propriamente à vida, ele diz não para a violência, segregação, exploração e, principalmente, para a intolerância.
O status religioso predominante à época estava muito ressabiado com esse novo discurso, muitas vezes confrontaram Jesus para testar a sua interpretação. Mas sua posição ficou bem clara no Sermão do Monte onde ele afirma que não tinha vindo para destruir a Lei (mosaica) e sim para cumpri-la. O que fez, na verdade, foi dar uma interpretação revestida de amor em um novo tempo.
Um dos testes foi com a pena de morte, que era sumária para uma mulher adúltera, questionado por escribas e fariseus como cumpri-la com uma delas pega nesse flagrante, ele concorda com o apedrejamento, mas diz que as pedras deveriam ser arremessadas por quem nunca tinha pecado, ela sobrevive, mas é aconselhada a nunca mais pecar.
Já havia sido questionado de quem era o próximo para ele, nasce aí a parábola do Bom Samaritano. Jesus menciona a indiferença de alguns religiosos com um transeunte que havia sido  espancado em um assalto, mas que é socorrido por um samaritano, e inverte a pergunta, quem é foi o próximo nesse caso?
Sem tirar a relevância da misericórdia contida no socorro a uma vítima da violência, nessa parábola há um certo tom político, os samaritanos, por não aceitarem as imposições religiosas de cima para baixo, foram isolados e, muitas vezes, tiveram suas terras invadidas.
Jesus visita a Samaria e novamente dá destaque não só aos samaritanos, como também a uma aflita mulher. Ao pedir água para ela do poço onde tirava, ela estranha, um homem, judeu, pedindo água para uma mulher, ainda mais samaritana. Jesus, sabedor de seus dramas conjugais, releva as provocações e avisa, a água que tenho para te dar vai abrandar a sua sede para sempre e não só por alguns instantes. 

Nesse caso, de extrema tolerância, Jesus não só devolve a paz à mulher, como volta a atuar contra os preconceitos, sejam religiosos, de raça ou de gênero.

Referência: 69.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 28/09/2019 - (DV-69)

Tempo quente (DV-68)

Quem não tem assunto fala sobre o tempo? Principalmente em um elevador - “como está quente hoje, não é?”. Mas não é assim, damos muita importância às informações sobre a temperatura e sua influência sobre o nosso corpo.
As estações não funcionam com muita regularidade no Brasil, como explicar um inverno com 40 graus? Aff, pelo menos em Ribeirão Preto agosto e setembro costuma ser seco e muito, muito calor.
Já tivemos umas passagens engraçadas com a natureza.
Quando mudamos para Rio Grande, importante porto do Rio Grande do Sul, um desfile comemorou a chegada do verão, compreensível, o frio lá é rigoroso, prática comum em lugares muito frios, assim como há festivais de invernos também. 
Realmente o tempo esquentou, primeira folga pegamos as crianças e #praiadoCacino, tinha uma só senhora em 14 km de praia, de blusa, pescando seu sustento, e a água muito gelada!
Depois foi na Escandinávia, a temperatura lá estaria entre 14 e 16 graus, como nos dias mais frios aqui da região, é, mas esqueci da sensação térmica próxima de zero, quase viramos pinguim. Duro foi ouvir, “é, o frio daqui é quase igual o de Ribeirão”. Dizem que lá só têm duas temperaturas, frio e muito frio.
Para viajar adotamos uma técnica, chega de Natal Branco - viagens em fins de ano para lugares muito frios. Quer curtir neve? Patagônia em julho - Chile e seus lagos, e Argentina, com Bariloche,  Ushuaia e El Calafate, Europa é boa na primavera e no outono, verão é muito quente, inverno é frio demais.
Li em um trabalho de professores da USP que chamam de “histeria" e de “previsão apocalíptica” a fusão das calotas de gelo polar, inundação das cidades costeiras e desertificação de zonas produtoras de alimentos, e que isso não ajuda a entender os fatores climáticos reais. 
Também já lemos que fogo natural não afeta as matas, pois elas reciclam, da mesma forma que os produtores aprenderam a conviver com a neve, preparam a terra e até plantam antes, quando degela já têm o solo úmido, meio caminho andado para a produção.

Ficamos longe de polêmicas, mas com o respeito pela natureza, seus ciclos e habitats, enfim é a maior manifestação que temos de Deus sobre nós.

Referência: 68.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 21/9/2019 - (DV-68)

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Ary Balieiro e o Imperador (DV-67)

Quando chegamos à uma certa idade temos a impressão que se aceleram as luzes que vão se apagando em um lugar e acendendo em outro, estamos sempre louvando as pessoas que nos deixam. Recentemente já fizemos isso pelo dr. Lancha e agora o fazemos pelo dr. Ary Pedro Balieiro.
Dr. Lancha, além da sua grande humanidade, era muito atencioso, estivemos com ele em seus passeios em Ribeirão e numa icônica festa francana, além do efusivo abraço sempre queria saber de tudo um pouco, ótimo amigo.
Havia muito tempo que não me encontrava com o dr. Ary, mesmo quando exerceu a função de prefeito eu já tinha tomado posse como auditor-fiscal longe de Franca, está no rol dos cidadãos francanos que serão inesquecíveis.
Ontem, ao postar uma lembrança dele no meu Facebook escrevi - que bom quando um cidadão é lembrado por suas qualidades, mas também por suas obras, muitas foram destacadas.
Saboreando os álbuns de recortes de meu pai, Leonel Nalini, com anotações de 1930 até 1980, vemos que dr. Ary está em todos os registros da histórica construção do primeiro edifício da cidade, o Franca do Imperador, na praça Barão. Está certo que custou a demolição de um não menos histórico ‘Sobrado Verde’, e olha que teve até solenidade na AEC para esse anúncio, transmitido pela PRB-5, Rádio Clube Hertz, tudo era.
A cronologia da construção da obra assinada por Balieiro foi a seguinte, após diversos trâmites há o anúncio da aquisição e futura demolição do sobrado em 3 de setembro 1955, a obra demorou pouco mais de 2 anos, foi lançada em coquetel no próprio local em 21 de agosto de 1957 e entregue em 1958.
Como é de praxe fomos buscar nas religiões a referência às obras realizadas, invariavelmente falam no julgamento de Deus pelas atitudes do homens, segundo suas obras.  Isso revela que que temos temos duas metas para nossa evolução, o progresso moral, que nos leva ao progresso espiritual, e o progresso material, que é conseguido pela iniciativas e atividades de todos.

E é aqui que o  dr. Ary Pedro Balieiro e o dr. Lancha se encaixam, além de elogiados por serem ótimas pessoas, ajudaram a impulsionar o progresso de nossa cidade.

Referência: 67.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 14/9/2019 - (DV-67)

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Chiachiri, mais que a denominação do museu (DV-66)

Minha mãe sempre foi muito rotineira, tudo muito sabido, hora de acordar, hora de estudar, hora de brincar, se juntasse ela e dona Antonieta Barini, avestruz! Essa última todas as segundas e quartas-feiras, 7h05 entrava na sala de aula do IEETC e dictée, ditado na aula de francês, um martírio, rsss.
Também fiquei muito rotineiro, todo domingo, bem cedo, participava da Campanha Auta de Souza, que buscava doações de alimentos em saquinhos de papel e, em seguida, do programa de rádio Sementeira Cristã, com a Yara de Carvalho e a dona Marta. Ai vinha, num período a Pré-Mocidade, de novo com a dona Antonieta Barini e, por fim, um pouco mais velho, a Mocidade Espírita com Olavo Rodrigues, dr. Agnelo Morato, Felipe Salomão, dr. Tomaz Novelino, entre tantos.
Nessa época participamos no Teatro da MEF da peça Está Lá Fora o Inspetor, dirigida pelo Eurípedes de Carvalho, com a sua esposa Rosângela (daí saiu o casamento), Zara Carloni, Ademir Pinheiro, Sidney Barbosa e José Lucas Borges.
Na PRB-5, Rádio Club Hertz, íamos às vezes assistir o programa de auditório a Hora do Guri do saudoso amigo Carlos Grego.
E o Chiachiri? Depois dessa excelente e cronometrada rotina, antes de ir desfrutar do domingueiro macarrão feito em casa, passávamos pelo Museu da Franca, que hoje leva o nome do seu idealizador José Chiachiri, amigo que meu pai prezava tanto, fez uma crônica quando ele deixou a cidade em 1973, “O poeta foi passear”. 
Nunca me esqueci disso, um pouco pela gentileza, mas muito pela tristeza de se deixar a terra natal pela qual você lutou, literalmente em 1932, e vibrou tanto. Franca é naturalmente uma terra muito saudosista e os Chiachiri tem méritos nisso, muitos.
Mas eu acabaria mesmo me tornando um grande amigo de José Chiachiri, o filho, quando ele foi vice-prefeito e eu assessor de imprensa do Maurício Sandoval Ribeiro. Não víamos a hora de chegar os fins de tarde na Prefeitura para nos reunirmos em seu gabinete, era o momento da história, da saudade e de muito humor.

Chiachiri Filho sempre tinha algo novo para contar, até as mesmas piadas eram muito saborosas, um ser humano de primeira qualidade, conseguia reunir inteligência e bom humor, que boa época.

Referência: 66.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 7/9/2019 - (DV-66)

Boca calada... (DV-65)

Perguntamos para um endocrinologista se a expressão “peixe morre pela boca” serve para nós, já que exames de colesterol e diabetes tiveram melhoras significativas com alimentação balanceada,  ele só deu um leve sorriso, é muito sério. É claro que os exercícios são fundamentais nesse processo, desacumulam o que a boca ajuda a acumular.
Lembrei-me da frase popular 'boca fechada não entra mosquito’ e de uma expressão atribuída a Jesus: "Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. – O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem”, Mateus (15:18-19).
De novo a analogia, quando há sentimento no que falamos não sai da consciência e sim do coração. 
A voz dá o tom, alto ou baixo, pode ser exercida de forma calma ou apressada, pode embutir muita coisa, principalmente o rebate - “tem certeza?”, quando estamos diante de boatos e maledicências.
O diálogo produtivo é uma das formas difundidas da caridade e do combate à depressão, um bom exemplo são as pessoas sós que não veem a hora de ter alguém para conversar. No caso da família, quando um chega cansado e já conversou até dar nó na língua e o outro passou o dia sozinho, é a hora do respeito mútuo? Um respeita o cansaço, o outro os efeitos da solidão.
E as mulheres falam mais que os homens? Cientificamente isso já foi para o vinagre, tema de capa do livro O Cérebro Feminino (2006) do neuropsiquiatra Louann Brizendine, que depois se arrependeu, e também de um folheto de aconselhamento matrimonial de 1993. Aff.
Drauzio Varella contesta o mito que, apesar da fama, nunca foi comprovado cientificamente, mas o médico faz uma observação importante, a origem da fala no sexo feminino está nos dois hemisférios do cérebro, o do homem só do lado esquerdo, seria por isso que as meninas podem começar a falar primeiro que os meninos e no derrame as mulheres recuperarem a voz mais rapidamente. O falar muito não tem prova! Rss.

Para encerrar uma reflexão - Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar! (Chico/Emmanuel).

Referência: 65.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 31/8/2019 - (DV-65)