sábado, 30 de março de 2019

A fanfarra do Pestalozzi (DV-43)

Para falar da fanfarra do Pestalozzi precisamos elogiar uma outra, a do Champagnat, também é preciso avisar que nosso artigo de hoje é proibido para menores, já que estamos falando de 1967, mais ou menos. Ter convivido com o dr. Novelino foi muito prazeroso, tanto por seu enorme coração de amigo e filantropo, como por sua inteligência.


Sempre teve uma preocupação com os jovens e com o futuro de cada um. A dona Aparecida, sua esposa, foi um dos baluartes nesse processo todo, séria, muito séria, mas não menos comprometida com essa causa. 
O nome Pestalozzi é uma homenagem ao educador suíço que mantinha um instituto em Verdun, por onde Allan Kardec passou e recebeu boa parte de sua ótima educação. O modelo que inspirou o Colégio Allan Kardec, em Sacramento-MG, era o de formar pessoas e não só “alunos”, professores do Brasil todo vinham à cidade mineira para conhecer o método liderado por Eurípedes Barsanulfo.
Não tenho os detalhes, mas o dr. Thomas Novelino vem de Sacramento e funda em Franca o colégio  Pestalozzi, sendo impossível replicar totalmente o modelo suíço, o médico faz outras coisas maravilhosas, como recuperar jovens em forma de internato, dar profissão para eles com uma fábrica de calçados infantis, Mário Nalini Jr. era o seu gerente. A indústria vira uma potência, mas, infelizmente, tem o mesmo destino das maiores fábricas de calçados da cidade. 
Na área da educação, que sei que é modelo até hoje, peço licença para destacar uma área, a de contabilidade, profissão em especial, já que uma enorme gama de ótimos contadores e profissionais  afins saíram de suas salas de aula, com um detalhe, boa parte dos professores era formada de voluntários, não cobravam por isso. A minha alavancagem profissional saiu do curso de contabilidade da escola. 
E a fanfarra? Não sei exatamente o que motivava dr. Novelino a gostar de uma banda, nesse caso de uma fanfarra. Mas sei que tive a oportunidade de participar desse processo, também meu cunhado Edmar Storti, que tocava de maneira elegante uma corneta fá.
Dos personagens, minha esposa Palmira lembra que o nosso instrutor sempre foi o Topete, que também tocou no Laércio da Franca , lembro dos colegas de repique, os inseparáveis Faustinho, seu irmão Miel e o João Moisés. Sinto não me lembrar e nem ter espaço para todos os outros que acabaram por dar uma grande alegria ao querido médico. 
Em 1967 Novelino contrata um instrutor militar, como reforço, duplica os dias de ensaio, e, com um esforço acima do normal, aliando a técnica à disciplina, nós - por uma única vez, vencemos o concurso de fanfarras e bandas da cidade. Davi vence Golias.
Que saudades do dr. Novelino, da minha turma de contabilidade e da fanfarra do Pestalozzi, com meus enormes respeitos à campeoníssima fanfarra do Champagnat. 

Em tempo - se você tiver alguma foto da fanfarra do Pestalozzi e puder nos enviar, agradeceríamos muito: nalinisecretario@gmail.com 
  
Referência: 43.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 23/03/2019 - (DV-43)

sábado, 16 de março de 2019

Apocalypse Now (DV-42)

Esse filme, Apocalypse Now, foi a primeira coisa que me veio à cabeça com mais uma tragédia que colecionamos nos últimos tempos, estão se emendando tanto, que, se as reportagens se dedicassem a fundo em cada uma delas, certamente não teriam tempo para todas. Daí uma vai se sobrepondo às outras, retirando umas de pauta à medida que vão repercutindo menos.
Mas não deixa de ser tragédia, e, invariavelmente, estamos com famílias sofrendo muito, de forma muito dolorosa, esse caso de Suzano, pior, nem é muito novidade, mas não importa, cada vez que acontece é muito chocante, desta vez não estamos na rota da natureza, em deslizamentos, enchentes ou tsunamis, nem há erro de engenharia de uma boate sem portas ou para criar um mar de lama, são jovens, brasileiros, também filhos de famílias provavelmente “normais”, fazendo uma ocorrência que nunca há de ser digerida, não há explicação para isso.
Fazem um paralelo com as questões do bullying, infelizmente muito comuns nos EUA, mas pesquisas também alertam sobre as influências de jogos virtuais violentos. Uma das primeiras preocupações foi com os desafios macabros que rondam as redes sociais, onde os jovens são incitados a se mutilarem levando alguns ao suicídio, diversos casos reais.
Estudiosos dizem que, nesses casos, o melhor é um amplo diálogo, ouvíamos antigamente que devemos aproximar e não empurrar os filhos para a rua, não há a menor segurança com o que vão encontrar como parceiros. E agora? O inimigo é convidado a entrar nos lares, de forma virtual.
Ainda que seja complicado, a regra é a mesma, não desistir nunca da educação deles, os professores andam muito assustados, têm a tese que o primário, o básico, é aprendido em casa.
O filme que refiro, Apocalypse Now, é um cult movie, ou épico como dizem, tem três versões enormes, e foi dirigido por Copolla, tinha entre grandes artistas, como Robert Duvall e Martin Sheen, e Marlon Brando em uma de suas últimas aparições. Talvez tenha me lembrado dele, neste momento, pelos conflitos que a violência causa nas personalidades,  com o requinte de crueldade do ataque a uma escola com os sons de metralhadoras e mísseis atirados,  misturados com a música Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner. Assistam depois me contem.
O crítico Roger Ebert analisa que o filme não é só sobre a famigerada guerra dos EUA com o Vietnã, mas como às vezes se chega ao "lado mais escuro da alma, com verdades que nunca gostaríamos de descobrir”. 
Em Suzano, os dois causadores dessa inominável tragédia não serão julgados na Terra, já a população - aqui ou onde sempre acontece, busca explicações do "onde será que erramos" e do "porque isso não pode ser evitado". 

Estar nesse roteiro tira o Brasil, de novo, da comodidade do aqui nunca acontece. 
Que pena, que medo.

Referência: 42.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 16/03/2019 - (DV-42)

sábado, 9 de março de 2019

Deus e as mulheres (DV-41)

Muito bem, ainda estamos em comemoração do Dia das Mulheres, não para reclamar, mas para ratificar, todas as comemorações que as envolvem tem mais importância do que para os homens. Tínhamos um site de envio de cartões comemorativos, o Dia das Mães ganhava dos pais numa proporção de 6 por 1, se eram mil cartões em agosto, maio chegava a uns 6 mil, mais ou menos. Isso vale para as secretarias também. Ou seja, o dia dos secretários com certeza nem existe e, todas as vezes que vamos falar em Dia dos Homens caímos num vácuo, cada um fala uma data.
Para me contestar - você já viu alguma publicidade na tevê, comercial ou institucional dizendo: - No dia dos homens presenteie-o com um terno de marca? Para as mulheres são centenas de opções. Vou abrir um parênteses, são homens que não merecem ou as mulheres que merecem mais? Rss. Enfim, homem não gosta de presente!
Mas, como o artigo não é para polemizar e sim para comemorar tudo começa na criação, veja que no mundo animal, os bichinhos ficam ao longo de milhares de anos aprendendo a piar mais bonito, rugir melhor, dançar de forma piramidal, fazer ninhos maravilhosos de amor, para agradar as fêmeas, com pouquíssimas exceções elas escolhem seus pares.
E olha que às vezes isso termina numa pancadaria danada, os machos quebram seus chifres, se mordem e se arranham todo, quando não sucumbem na luta, isso considerando que normalmente ainda tem, no grupo, mais fêmeas do que machos. O desenho é o da natureza.
O problema para falar das mulheres, nessas comemorações, é que, de forma justa, passamos a endeusa-las sem a análise do dia a dia, lembrar do sem número de mulheres com jornadas triplas, afeitas a relacionamentos com pares muito complicados, quando não herda tudo isso, mais os filhos,  e ainda fica sozinha. Aí aparece um outro ser maravilhoso, não menos mulher, a avó. Ela acaba por criar duas levas de filhos, também com jornada tripla (?), para garantir a estabilidade da família.
Então quero sim falar de flores para as mulheres, mas, mais que isso, reconhecer que não raro são elas a base de toda a família. Com a sociedade atual em transformação, que chamam de moderna, muitas coisas têm mudado, a forma de união, os gêneros, mas nada mudará a responsabilidade da nossa continuidade e qualidade como seres humanos, e isto está delegado a elas, mães e avós, porque não?
Cabe a nós, os homens, num relacionamento de igualdade, entender que Deus, apesar de tantas análises bíblicas, concebeu no par um ser com mais importância, dando a elas sentidos que são mais aguçados, muito mais potencializados, os do cuidado, da proteção, do amor pelos seus e pela humanidade, sentidos que, bem cuidados, podem ser a grande pista para a boa evolução do ser humano.

Referência: 41.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 09/03/2019 - (DV-41)

sábado, 2 de março de 2019

Carnaval, não é não? DV-40

Seguindo a linha da oportunidade, sem perder o compasso da folia, falamos hoje do Carnaval, festa que feita com inteligência pode ser prazerosa, é como o futebol, no fundo no fundo todo mundo gosta. O período é mesmo um feriadão, utilizado como tal… feriadão! Pode até dar uma passadinha pela tevê, uma olhada nos desfiles, mas fica só por aí.
O evento voltou a se popularizar de forma sadia há tempos, com os gritos de carnaval nas praças, antigamente já teve desfiles nas ruas das cidades, em carros abertos, com blocos disputando a simpatia, com confete e serpentina, quiçá lança-perfume. Hoje, com o enorme volume de famílias com crianças nas praças, vê-se que é um momento muito saudável, a nota ruim fica por conta dos celulares que trocam de mãos e a falta de banheiros para tanta gente.
O lança-perfume ficou para trás, não sei bem de onde surgiu a ideia de jogar éter nas pessoas, o cheirinho saiu das roupas e foi parar nos lenços, com óbitos registrados. Mas também lançavam espumas e outros ingredientes, nada recomendáveis, os produtos não sobreviveram a nenhum exame químico, daí passaram a jogar água, com humor de hoje o certo mesmo é não jogar nada em ninguém, para quem gosta é só dançar mesmo.
E o namoro no Carnaval “não, é não”? Uai, e quando não já foi sim? A Festa do Peão em Barretos já viveu isso, o não lá foi retirado de todos os dicionários, poucas moças sobreviviam aos ataques. Tirando o exagero a polícia da cidade acabou com o “não é sim”.
Vejo por postagens que, a partir de 1920, Franca levava os desfiles de blocos e carros muito a "sério", mais recente convivemos com disputa dos grupos, entre outros, do UAI e Ponto Final, uma festa de rivalidade na AEC. Os dois grupos se eternizaram, mas outros sempre primaram pela criatividade e muita elegância.
A praça Barão já teve um teatro, o Santa Clara, onde foi a loja de ferragens da Casa Barbosa, 
local de  “bailes carnavalescos memoráveis”, isso até o ano de 1920. Mais de 100 anos… chegavam de carruagens? Rsss.
Vejo que o veículo top desses desfiles era o barata da Ford, em uma delas, em 1928, os “galãs” Arlindo Haddad, Gino Balerini, Wadi Pedro, Fuad Abdala e Juca Ramos, estavam vestidos de “simpáticos toureiros, arranjaram muitas namoradas e conquistaram os aplausos da população”, alardeava uma notícia da imprensa francana em 1976.
Em 1941, na enorme propriedade da família Presotto, rua General Carneiro esquina com Monsenhor Rosa, tinha um clube chamado Amor à Mocidade, segundo a imprensa da época “o mais democrático de todos”, ali foi coroado o primeiro rei momo francano, Mário Tedesco com sua rainha Nair Capretti, presentes na coroação Baldijão Seixas e Orlando Dompieri. 


Referência: 40.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 02/03/2019 - (DV-40)