Convidado pelo Verdade para escrever um artigo sobre as mulheres no seu Dia Internacional, fico pensando: o que um economista está fazendo aqui? Talvez seja mesmo uma referência ao meu pai, caríssimo Leonel Nalini (Nelo), que, este sim, tinha esse dom. Em suas mais de 200 poesias, a mulher e o amor eram sempre o epicentro.
Depois, penso que talvez devesse ser proibido homem falar de mulher. É quase um julgamento, um movimento analítico que não deveria nos caber. Afinal, se elas são tão melhores em tudo – como não cansamos de reconhecer –, como alguém em um patamar inferior pode se postar de senhor dessa razão? E mais: se conseguimos ver com tanta clareza as virtudes que lhes sobram e nos faltam, por que não temos o mesmo comportamento? Algo parecido acontece na religião: pregamos sobre a paz interior, o paraíso, Deus, mas seguimos errando nos mesmos pontos.
Agora, falando sério: já viu alguma publicidade dizendo “No Dia dos Homens, presenteie-o com um terno de marca”? A comparação é gritante: quando gerenciávamos um site de envio de cartões comemorativos, os do Dia das Mães superavam os do Dia dos Pais em uma proporção de 6 para 1. Isso vale para as secretarias também, ou seja, o dia dos secretários com certeza nem existe. E todas as vezes que tentamos definir o Dia dos Homens, caímos no vácuo – ninguém sabe exatamente quando é.
A própria natureza dá sinais. No reino animal, os machos passam gerações aprendendo a piar melhor, rugir mais forte, dançar em padrões geométricos ou construir ninhos de amor para impressionar as fêmeas. Com raras exceções, são elas que escolhem seus pares. E, muitas vezes, isso termina em briga – chifres quebrados, arranhões e até morte. Os machos lutam pela chance de serem escolhidos, enquanto as fêmeas simplesmente observam e decidem.
Mas é aí que, ao falarmos das mulheres, acabamos por endeusá-las sem analisarmos de fato sua rotina. Muitas enfrentam múltiplas jornadas, lidam com relações complicadas, cuidam sozinhas dos filhos. E, então, aparece outra figura extraordinária: a avó. Quantas avós não assumiram o papel de mãe novamente, garantindo a estabilidade da família?
Em tempo: como reagiria uma jovem de 16 anos se seu namorado abrisse a porta do carro para ela? Da mesma forma que sua bisavó! Gentileza e boa convivência nada têm a ver com fragilidade do sexo, mas sim com educação. Se a violência não deve ter lugar algum, por que haveria de caber contra as mulheres? Ainda carregamos estereótipos ancestrais, como o do homem caçador e da mulher cuidadora do lar. Mas a realidade está mudando – e há muito tempo.
Mas então, Nalini, cite algumas mulheres que merecem referência. Difícil! Conheci tantas que não me arrisco. Ou arrisco?
Além das da minha vida – minha esposa Lila, minha irmã Aída, minha mãe Maria, minha sogra Hilda, minha filha Melina e minha neta Maria Eduarda – preciso mencionar algumas que moldaram a história do mundo.
Comecemos com Joana D’Arc, que, aos 19 anos, vestiu-se como soldado e liderou tropas francesas contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos. Se fosse homem, talvez apenas tivesse sido executada. Mas, por ser mulher e ousada, foi queimada na fogueira. O crime? Liderança.
Falemos de Evita Perón, que moveu multidões na Argentina e até ganhou uma ópera. Elizabeth II, monarca símbolo de resiliência e estabilidade. E sua contraparte trágica, Diana, que virou um ícone global de compaixão.
E Helena de Troia? Se sua história foi real ou mitológica, tanto faz – o que importa é que os gregos não hesitaram em se curvar diante de sua beleza e poder.
No Brasil, como não falar de Maria Quitéria, a primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro? Ou de Chiquinha Gonzaga, que quebrou barreiras na música? Ou mesmo de Carolina Maria de Jesus, que transformou sua realidade de pobreza extrema em literatura de impacto global?
E a maior de todas, Maria, mãe de Jesus? Sua preocupação com o filho sumido em Jerusalém, sua bronca, suas dúvidas e, depois, sua fortaleza ao vê-lo cumprir sua missão. Se há um pilar no cristianismo, é ela.
Se este artigo não é uma homenagem às mulheres, que ao menos sirva como reflexão. Pois, sem falso romantismo, o equilíbrio da criação está nelas. Criam, educam, lutam, encantam – e fazem tudo isso com uma graça que nos escapa.
Dedico este texto às mulheres que marcaram minha vida: minha mãe, Dona Maria, minha filha Melina e minha neta Duda, que partiram cedo demais. Também à minha irmã Aída, ainda na ativa, e à minha sogra Dona Hilda, que teve uma paciência infinita comigo. E agora, com licença, vou ali dar um beijo na Lila, que, neste ano, completará 54 anos ao meu lado, acabamos de fazer Bodas de Ouro.
Para terminar, deixo aqui a canção de Erasmo Carlos, que já disse tudo:
*Dizem que a mulher é o sexo frágil*
Mas que mentira absurda!
Eu que faço parte da rotina de uma delas
Sei que a força está com elas
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço
Satisfaz meu ego se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça
Quando eu chego em casa à noitinha
Quero uma mulher só minha
Mas pra quem deu luz não tem mais jeito
Porque um filho quer seu peito
O outro já reclama a sua mão
E o outro quer o amor que ela tiver
Quatro homens dependentes e carentes
Da força da mulher
Mulher, mulher
Do barro de que você foi gerada
Me veio inspiração
Pra decantar você nessa canção
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um dez
Sou forte mas não chego aos seus pés
Mulher, mulher
Mulher, mulher
Mulher, mulher... Obrigado por existirem!
(texto revisado em 8 de março de 2025)
Nenhum comentário:
Postar um comentário