quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Faltou um Francisco (DV-19)

Na minha última coluna, a que me lembrei de alguns Franciscos representativos ao longo da minha vida, esqueci-me de um de forma incompreensível - Francisco Cândido Xavier, o Chico. Antes que eu me chateasse, pensei, foi bom, agora posso fazer uma coluna só para ele.
Cresci ouvindo coisas sobre ele, até que, já na Mocidade Espírita, fizemos uma excursão à Uberaba em um sábado à tarde e, claro, fui conhecê-lo, aquela singeleza que todo mundo sabe tão bem retratada até em filmes. Não sei bem onde ele estava (1968, mais ou menos), mas lembro-me que contei que tinha vindo de Franca e estava ali para conhecê-lo, certamente exultante por isso.
Ele me pede - você volta mais tarde para fazermos a caminhada? Não lembro do que se tratava, mas estava ligado à assistência social, acho que era dia de distribuição de sopas. Nesse momento cometo um erro singelo, digo que sim, quando, na verdade, não voltaria, tínhamos uma atividade com a Mocidade de lá.
O tempo passou, passou, e continuei ouvindo histórias do Chico, algumas acabei utilizando numa bem humorada palestra que fiz, só sobre causos desse ilustre personagem. Uma delas foi em um aniversário, muito concorrido, todos que foram levaram um presente para ele, sendo recebidos à porta, tanta gente que a hora que último chegou os primeiros já estavam indo embora, dizem que ele chegava a machucar a mão. E aí a surpresa, cada um que se despedia ele oferecia um dos presentes que tinha acabado de ganhar. Chamado à atenção, sai ele com esta: - Ah, irmãozinho, é muita coisa para mim, já tenho o que preciso… Esse era o Chico.
Num lançamento de livro, conseguiram levá-lo a contragosto para Belo Horizonte, o livreiro esperando um CHICO XAVIER, recebe um senhor franzino, de boina, ao ser apresentado o livreiro pensou que era brincadeira dos amigos e diz - Ah, como eu gostaria que o senhor fosse mesmo o Chico Xavier, e ele solta essa: eu também!
Tem a que ele, com medo de uma turbulência em um voo, é chamado a atenção por Emmanuel, Chico insiste que estava com muito medo, Emmanuel ralha: Então morra com educação! Adiantou nada, Chico continua gritando e desabafa:  eu queria saber como faz para morrer com educação.
E comigo? O que aconteceu depois da minha pequena e inocente mentira, não voltei para a caminhada com ele. Depois de muito tempo estava na antiga Livraria Martins, no hoje calçadão, em Franca, e quem eu vejo ao meu lado? Francisco Cândido Xavier fazendo o mesmo que eu, na enorme surpresa digo: Oi Chico, um sábado fui te conhecer em Uberaba, e ele - Eu sei, você não voltou para fazermos a caminhada… Meu Deus, para quem fui mentir. Ele perguntou se eu daria uma volta com ele, eu disse que sim, passou o seu braço por dentro do meu e fomos caminhar pela Praça Nossa Senhora da Conceição.

Referência: 19.a coluna publicada no Verdade, jornal diário de Franca - SP - em 29/9/2018 - (DV-19)

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