sábado, 26 de janeiro de 2019

Medo de avião (DV-35)

Um dos primeiros voos que fiz foi de Franca para Brasília,  durante o primeiro governo do amigo Maurício Sandoval Ribeiro (1977-1982), fui representá-lo em uma reunião de dirigentes calçadistas em Brasília. Lembro-me pouco da viagem, mas uma coisa não esqueci, a calma de Helil Palermo, presidente da ACIF (1977-1980). Estávamos ao fundo de num avião Cessna de… uns 12 lugares, aeronave cedida pelo Comandante Rolim, dono da Transportes Aéreo Marília, a TAM, muito amigo da Patrícia, personagem marcante, uma hora conto.
Avião pequeno voa baixo, mais suscetível à leve turbulência, o subir e descer com a pressão atmosférica, se nossa barriga esfria quando há uma descida repentina, ainda que pequena, é natural que possamos sentir isso voando em pequenos aviões. Perguntei ao Helil se não sentia medo -  ele disse, não, é normal, e me acalmou.
Em outra oportunidade, duas experiências bem menos estressantes: voar em 1975 em um Douglas DC-3, versão melhorada daquele utilizado no filme Casablanca, a parte dianteira, quando estacionado, fica bem mais alta, voa tranquilo, com estivéssemos num filme preto e branco, e em um ultraleve numa praia de Maceió, decola e pousa na água, o ar refrigerado é a chuvinha que a hélice produz e o vento de cara limpa, delícia. 
Mas a ansiedade de voar não passava, uma vez ao lado de uma senhora com um semblante sereno, navegando no enredo de um livro, eu esperando o próximo chocalho, mãos transpirando, cometi uma impropriedade, tirei-a da sua outra viagem e perguntei - Como a senhora pode ficar tão calma assim? Ela disse, virando-se levemente para mim - Ah, não se preocupe é o medo do desconhecido, aos poucos, quando você for dominando isso, vai ver que se acostuma, tinha razão, acabei me acostumando. Com o tempo passei voar nas cabines, com os pilotos, quando isso ainda era possível, foi proibido depois do episódio das Torres Gêmeas, ali dá mais segurança, você vê as nuvens pesadas antes, rss.
Mas a aventura mais significativa mesmo foi numa nevasca em Ushuaia, na Patagônia argentina, de lá na Antártida é um pulinho, os técnicos limpavam a pista, nem chegavam no meio e o início já estava branquinho, assistíamos tudo do primeiro andar envidraçado. Daí tomaram uma decisão radical, vai ser só meia pista, e foi, limparam-na bem, avião estava posicionado, mais ou menos como aqueles que queimavam cartuchos, era o último, hehehe. Os motores, turbinas, tudo a mil por hora, ronco do avião ensurdecedor, quando soltam o bichinho sentimos o solavanco, velocidade máxima na largada, e…  decolagem bem no meio, que espetáculo. Primeira vez que vejo bater palmas na decolagem, já tinha visto em aterrisagens, é história para contar o resto da vida.

Mas não dá para não lembrar de uma frase dita por Jô Soares: "existem os que tem medo de avião e os mentirosos".

Referência: 35.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 26/01/2019 - (DV-35)

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