domingo, 14 de abril de 2019

Jornal de papel (DV-46)

Quando o Pinati me convidou para escrever para o Diário Verdade, rememoramos muitas coisas, uma delas foi quando “dormi” no jornal Diário da Franca, onde rodava um periódico calçadista, fiquei uns 3 dias cheirando tinta, que legal. As rotativas naquela época estavam cada vez maiores, tanto que a frase - Parem as máquinas!, foi até tema para filmes. Representava interromper a impressão, trocar a manchete e seguir em frente.
Hoje a digitalização e a virtualização estão preponderando, mas confesso, mesmo lendo manchetes de notícias pela Internet, minha orientação diária, o chamado logo cedo, tem que ser com jornal… de papel. Como isso é um assunto avassalador, como os efeitos da inteligência artificial, vou deixar isso para os próximos capítulos e para os mais novos, fico com o espírito de clube da saudade.
Na coluna no primeiro Verdade, em 15 de abril do ano passado, contei um pouco desse fascínio pelo jornalismo, pela análise e pela crônica, disse que foi uma herança do meu pai, e, como se trata de ato voluntário, representa uma tocha que ele ascendeu nos anos 1930 e estamos cá mantendo quase 90 anos depois.
Duas coisas nos inspiram hoje, em 7 de abril comemora-se o Dia do Jornalista e, no dia 15, um ano de vida do Verdade, que bom continuar aqui, todos os sábados.
É errônea a afirmação de que Sócrates foi contra a linguagem escrita - que avançava, e que preferia a linguagem oral, o que ele realmente previa é que as poesias e os poemas escritos à época perderiam a força sem a improvisação ao serem recitados. Aquele tom que se ganha ao ler em voz alta, quando pausamos, respiramos fundo, olhamos longamente para a platéia e interpretamos dando nossa opinião. Isso a escrita realmente prejudicou, só grandes escritores conseguem efeito semelhante. 
É a exaltação da dialética, por vezes ouvimos que alguém não gosta de aplicativos, gosta de olhar no olho do vendedor, só estando próximos conseguimos medir as reações, nesse caso uma palestra é melhor que um livro, um show é melhor que um disco.
O problema não é nem de jornal ou livro impressos ou de uma palestra, mas sim a brevidade da Internet, as notícias estão diminuindo, valem mais as manchetes do que o conteúdo, o que se recorta disso faz nascer as fake news. É o fast vencendo o slow, o resumo sendo mais importante que o conteúdo, enfim, é o que temos para o agora e para o futuro, vamos nos adaptar?
De qualquer forma sempre brinco, enquanto gostar dos Beatles sou um jovem, mesmo beirando o setentão, mas vamos sempre sentir saudade do cheiro de tinta de jornal, e o grande prazer de ver horas e horas de esforço impresso em um folha de papel.
Parabéns pelo ano de vida meus caros amigos do Verdade.

Referência: 46.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 13/04/2019 - (DV-46)

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