sexta-feira, 19 de julho de 2019

O nosso Russo (DV-57)

Renato Russo viveu 36 anos, fundou o Legião Urbana, foi um dos melhores letristas do rock brasileiro. Nada a comparar com Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Bosco, geração anterior à dele mas que também não escreviam para o rock, e nem com o clássico Tom Jobim, que permitam admitir fora de concurso. 
Chico Buarque venceu uma pesquisa informal entre as cantoras brasileiras, ele foi escolhido como o compositor que melhor entendeu a alma feminina. As entrevistadas disseram que cantavam suas músicas como elas as tivessem escrito.
Dos quatro o Gil é o que tem o maior swing, compôs músicas dançantes sem nunca perder o brilho e a qualidade das letras. Entre esses, eu diria que o mais complexo é João Bosco, faz um jogo de palavras com uma rapidez que, quando vamos ouvir a sua música, fica quase impossível de se acompanhar. Caetano mistura tudo isso, hehehe, é brilhante também.
Mas e o nosso Russo? Sua obra reflete um pouco de seu perfil solitário, aquele que, mesmo estando perto de muita gente, parece que está sozinho.
Na sua música mais ouvida a Mais Uma Vez, ele chega reclamar: "Tem gente que está do mesmo lado que você. Mas deveria estar do lado de lá”, aumenta o tom dizendo que são pessoas que não sabem amar, vivem nos enganando, gente que machuca os outros, e completa - "Se você quiser alguém em quem confiar. Confie em si mesmo”.
O desistir das pessoas em volta não é só um gosto pela solidão, mas também uma chamada de atenção para a depressão. É bom considerarmos que não estou fazendo análise psicológica, imagina, nem sempre a obra literária, principalmente em letras de música, apontam para o que autor pensa. Quem faz uma trilha sonora, ou musical que envolvam peças com letras, escrevem para o tema que está à sua frente, não para o que ele pensa.
Mas, no caso do nosso Russo, quem assistiu ao filme póstumo, ou acompanhou sua carreira, sabe de seu lado solitário quase depressivo, estado que, creio, todos temos que vigiar, o de que é melhor estar sozinho, fomos criados para viver coletivamente, mesmo com suas dificuldades.

De qualquer forma, fiquemos com sua obra, intensa e contestadora, foi um grande músico. 

Referência: 57.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 29/6/2019 - (DV-57)

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