sábado, 1 de fevereiro de 2020

Tudo vale a pena? (DV-85)

Fernando Pessoa
        Meu pai foi poeta. Leonel Nalini cantou Franca em prosa e verso, conviveu com os demais poetas francanos, jornalistas e radialistas. Começou após a revolução de 1932, quando ganha a maioridade, próximo dos 20 anos, e nunca mais deixa de fazê-lo. Até 1984, ainda escrevia cartas para a Patrícia, sua eterna amiga. Nossa! 
        Além da cidade, gostava de exultar as pessoas, o amor, a dor, e a flor. Crítica? Não, adorava a frase dele quando respirava fundo e dizia - vai suspiro viajante, vai aos pés da minha amada.
Leoel Jr., Leonel Nalini, o autor do artigo
        Fui buscar para ele um verso do poeta português Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente. 
        A grande curiosidade da obra de Pessoa (1888-1935) foi ele subdividir as suas personalidades em escritores diferentes. Não carece analisar a sua obra como uma só, e nem devemos, o múltiplo estilo era proposital e assim deve ficar.
Lidou brilhantemente com isso, sua multi personalidade escondia-se na heteronímia, onde autores fictícios são criados para dar vazão a outros pensamentos, que não seriam do próprio autor.
        Efeitos assim, podem ocultar o Transtorno Dissociativo de Personalidade, é só assistir Psicose (Alfred Hitchcock ) ou Fragmentado, filme alucinante onde o personagem Kevin (James McAvoy) se dividindo em 23 personalidades com idades, gêneros e até doenças completamente diferentes.
        Não era o caso do poeta e não se tratava de transtorno e sim de uma maravilhosa opção autoral, veja como ele viu isso à época: - Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito? 
        Ícone de Pessoa a poesia Mar Português descreve os sofrimento do espírito navegador à época, os naufrágios para dobrar o cabo Bojador (Marrocos),  causando muitas perdas pessoais -  Ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal!
    Para que fosses nosso, ó mar! Quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar. Valeu a pena? Tudo vale a pena, Se a alma não é pequena.
Fechamos com a convicção de que realmente, se alma se eleva, em todos os sentidos, tudo que ela fará terá valido.

Referência: 85.a coluna publicada no Verdade, jornal de Franca - SP - em 25/01/2020 - (DV-85)

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