sábado, 9 de fevereiro de 2019

A Bancada da Bala (DV-37)

Não sei bem o que fazer com o decreto que flexibiliza a aquisição de armas, certamente nunca vou usá-las, mas preocupa quando isso ocorre nas discussões bobas, principalmente as familiares e as de trânsito, há muitos precedentes.
Na história mundial tem poucos litígios resolvidos em paz, os muito antigos não foram na bala porque a pólvora ainda não tinha sido descoberta. O Brasil teve seus embates e Franca também.
Consta da história francana uma rebelião chamada Anselmada, referência ao seu líder, o capitão Anselmo, dezenas de outras iguais ocorreram no Brasil Império no vácuo de poder entre a abdicação de Dom Pedro I (1831) até a maioridade de Dom Pedro II (1840). 
O Brasil dividido em províncias não tinha uma uniformidade federativa, cada presidente de província nomeado fazia a sua política. Em São Paulo (1835) o brigadeiro Tobias Aguiar, edita lei que lhe permite nomear os fardados prefeitos das vilas. 
Para Franca, sem muito apoio, é nomeado, o sargento-mor José Joaquim de Santa Anna, seguem-se conturbadas eleições municipais, Anselmo que era vereador não se reelege e dois grupos acabam se estabelecendo, dos comerciantes, mais urbanos, e dos ruralistas.
O grupo no poder nomeia seus pares nos cargos importantes, na coletoria e no judiciário, inclusive o importante juiz de paz. Nessas turras até uma janela da casa da cunhada de Anselmo é fechada a pregos, desavença que quase acaba na bala, uma gota d'água. 
Ao nascer do Sol do primeiro dia de 1838, Anselmo, com 30 seguidores armados até os dentes, invade a pequenina Vila Franca, faz ameaças aos líderes, promete arrastar um amarrado ao cavalo, não era bem um feliz ano novo. Após muitas negociações ele recua, mas, nos meses seguintes, não só vê o tratado desfeito, como passa a ser acusado criminalmente, período de muita tensão. 
Diante de um mandado de prisão o capitão volta invadir a vila em setembro, agora com 74 homens, o fiscal da Câmara Clementino, ao intervir, é baleado, mesmo fim do cão de guarda do então juiz de paz Manoel Rodrigues Pombo. Depois de negociações tensas com vitórias para Anselmo ele se retira.
O presidente da Câmara, ao retornar, desfaz os acordos e organiza uma forte mas frustrada resistência, o conflito se intensifica resultando em mais mortes. O juiz Pombo, desafeto desde o barraco da janela vai às terras dos revoltosos (6/11) tentar um acordo, nunca mais voltou, deixou família com muitos filhos. Anselmo, autorizado, volta à Vila (9/11) com muito mais gente, há ainda alguma resistência com mortes, vereadores fogem  e Anselmo coloca seus aliados no poder.
Em 14 de março de 1839 a Vila Franca se transforma em Comarca, mas com o judiciário em Batatais, para tentar acalmar a coisa, o Capitão Anselmo e os demais líderes da revolta são ali julgados (15/11). Todos são absolvidos.




Referência: 37.a coluna publicada no Diário Verdade, jornal de Franca - SP - em 09/02/2019 - (DV-37)

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