sábado, 28 de novembro de 2020

Um relógio que viu as horas passarem, e a história também

Não iria concluir meus artigos sobre o aniversário de Franca, antes de fazer o especial de amanhã, sem falar dele, com muito carinho, o Relógio do Sol.

Olha ele aí.... acompanhando a construção da futura Catedral


Segundo o IBGE o Relógio do Sol é a maior expressão da história francana, como edificação, é claro. Ele tem tudo que se espera de um monumento histórico, é único no seu modelo do mundo, assistiu uma grande parte da história da cidade e tem o reconhecimento da população. Com exceção da matriz, que já é um outro tipo de monumento, ele o símbolo mais fotografado em todo município, por sinal é mais velho que ela.



Começou a ser construído em 1886, apenas 30 depois de Franca ganhar o status de cidade, mas foi inaugurado em 11 de abril de 1887, é tombado pelo Condephaat, e foi edificado pelo francês Germano de Annecy. Segundo o próprio IBGE, só na cidade que o padre nasceu, claro Annecy, na França teria um, semelhante… Igual não é. O instituto ressalta que o monumento sempre motivou trabalhos e teses escolares e que é um destaque não só para Franca, mas também para toda região, "proporcionando um aprofundamento mais detalhado sobre a cultura e história de Franca”.

Postal, Cariolato

Com seus 133 anos, na praça Nossa Senhora da Conceição, ficou observando a cidade crescer e se modernizar, assistiu como disse, por exemplo, a construção da igreja Matriz, que dá nome à praça, a catedral. Ficou só admirando a cidade crescer em sua volta, de onde está dava para dar uma espiada no calçadão, tem saudades quando ele era trajeto para os cinemas São Luiz e Odeon e também para o hotel Francano. 


Um observador secular

Testemunhou desfiles, fatos históricos importantes, certamente deve saber quem foi o primeiro a desfilar no centro com seu carro moderno, antes só arremedos ou semoventes (burro, cavalo). Assistiu curioso as enormes festividades de comemoração do 1.o Centenário de Franca, em 1956, que acabou não sendo.


Acompanhou atento as fofocas regadas de ótimo café da praça Barão, viu alguns tiroteios, conheceu o incrível Pelotão e outros ótimos personagens, nunca entendendo o humor negro que cercava o Geraldo. Só soube mais tarde que os milhões negociados, em forma de diamantes, financiaram muito do progresso francano. Também na área da economia, nem sabe quantos foram os assuntos ligados aos calçados e ao café. Ambos produtos de exportação, mas que nunca deixam de oferecer muito luta e esforço, com o clima e com a concorrência.


     Viu a movimentação da construção do vizinho Hotel Francano, que veio com a euforia do café, mas que, ao se esvair, levou também este outro monumento. Riu muito com a juventude francana, dos anos 1960, girar em filas na sua frente, os moços indo, as moças vindo, paquera em círculo sem precedentes que promoveu muitos casamentos. Viu todas manifestações e comemorações da cidade, mas escapou do tiroteio provocado pelo capitão Anselmo e nem viu a casa fortificada que seria montada bem ao lado dele, isso o antecedeu. Deve ter torcido pelo movimento das Diretas Já, pedindo a volta das eleições democráticas.


Espantado mesmo ficou com a construção do primeiro arranha-céu da cidade, o Edifício Franca do Imperador, não tinha visto nada daquele tamanho, depois com um moço que vendia amendoim, torradim, salgadim… que conseguia fazer a sua réplica, como veremos em seguida.


Produto de estudos científicos


Fruto de inúmeros trabalhos científicos, é necessário estudar muito para entendê-lo na íntegra.

Foto de um recorte dos álbuns de meu pai datado de 1956, 
não se tem como precisar quando esta arte gráfica foi feita, 
mas vemos que o autor foi Alcebíades.

Traçando uma linha do tempo, que adoro fazer, vemos que, quando foi inaugurado em 11 de abril de 1887, ainda não havia sido proclamada a república, o resto da história você conhece. A população francana era de aproximadas 9.000 pessoas, menos que as transitam pelo complexo central da cidade hoje, e, felizmente, um ano depois, em maio de 1888, seria abolida a escravidão para 1400 dessas almas da cidade.


A igreja matriz começou a ser construída em 1809, uma casinha, o templo atual começa a ser erigido em 1898, doze anos depois do Relógio. Ainda em obras teve a primeira missa em 1913, mas só iria ser inaugurada em 1926. É comum publicarem fotos com as obras da atual matriz e o Relógio ali firme, só prestando atenção no seu crescimento.


Foi o monsenhor Rosa que trouxe para Franca o padre Germano de Annecy - um cientista francês radicado no Brasil. De forma curiosa ele une César Augusto Ribeiro, maçom português, um dos que editavam o jornal O Nono Distrito, e o padre Cândido Rosa, para que ele viesse a ser construído, foi um pacificador na rixa que reinava entre ambos. Também teve papel importante na vinda das irmãs que fundariam o Colégio de Lourdes, depois o Colégio Champagnat, que não chegou a ver.


Frei Germano tem uma biografia vastíssima, tentou voltar para a Europa, passando pelo Vaticano, mas faleceu antes de sair do país, só com a roupa do corpo, mas até experiências pioneiras com a energia elétrica ele fez, há relatos de exibições importantes em São Paulo.


O Relógio do Sol não é monumento qualquer, ele é testemunha da história francana e do país, precisa ser preservado, estar em um roteiro oficial do turismo francano, quiçá com guias oficialmente formados. Sempre fica ali esperando que o Sol passe por todos os  seus quadrantes, desafiando cada transeunte a saber que horas são, poucos acertaram. Ele não fornece só as horas, mas também outras informações, entre elas as estações do ano.


Jubileu do Amendoim

foto Museu da Pessoa


Jubileu dando aulas sobre o relógio.

Você se lembra que o Jubileu do Amendoim (1937-2014)? Seu filho, como ele fez, vende amendoim salgadim, torradim até hoje, principalmente nos jogos de basquete. Pois é, poucos sabem que ele fazia, com perfeição, réplicas do Relógio do Sol, com sua origem humilde e simplicidade dava aulas de como olhar as horas e minutos no original e nas suas réplicas. Parece que tem uma réplica dele feita no parque da antiga Francal, contam que não está em bom estado.


Annecy


Em qualquer pesquisa que se faça sobre o Relógio do Sol chegaremos ao seu criador, padre francês Germano, do que? De Annecy. Como a maioria dos povos naquela época, carrega como sobrenome a cidade onde nasceu.


Sempre ouvi dizer que em Annecy haveria um irmão único do relógio francano no mundo, pelo menos é que o dizem algumas fontes pesquisadas. E, surpresa!!! São parentes, primos, mas nunca irmãos, é só comparar com a fotos que publicamos. A irmandade é atribuída ao fato de ambos terem pedestais que os tornam verticais. E, talvez, na forma de enxergar as horas, estações, etc.


Os franceses o chamam de "único", olhando bem é sim, o que faz do nosso muito mais único ainda, convenhamos, o de Franca é muito mais charmoso, não é? A fria e montanhosa Annecy, se situa próximo ao Mont Blanc, região dos Alpes, tríplice fronteira entre Itália, Suíça e, claro, a França.


Histórico da pesquisa

Vila Franca:


Jubileu do Amendoim e os seus Relógio do Sol:
http://gcn.net.br/noticias/338216/franca/2016/11/franca-shopping-retira-relogio-do-sol-feito-por-jubileu-do-amendoim


Excelente biografia do Jubileo feito pelo Museu da Pessoa:
http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/-45870

Dados importantes e científicos do relógio:
https://gcncomunica.wordpress.com/2010/03/23/e-nosso-o-1%C2%BA-relogio-do-sol-do-brasil/ 

Postagem que menciono o relógio de Annecy:
http://michel.lalos.free.fr/cadrans_solaires/autres_depts/haute_savoie/cs_74_annecy_unique.html

Visita de Corrêa Neves Jr. a Annecy:
http://gcn.net.br/noticias/230147/opiniao/2013/11/o-relogio-e-o-cadran

Veja a hora nos dois relógios (foto minha)

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