quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Gerado Pelotão e seu compadre

A Franca, capital dos calçados, dos diamantes, do basquete, terra do melhor da café do mundo, tinha também pessoas simples e especiais
 

        Franca, Atenas da Mogiana, como era chamada pelo Governador na década de 60, tempo dos anos dourados, tinha poetas, músicos, industriais idealistas, muita gente conceituada e admirada. E pessoas simples, como Geraldo, que era chamado Pelotão pelos moleques na praça Barão. Até nisso a Franca era uma cidade diferente.             Uma cidade mineira dentro de São Paulo, como se dizia, ao lembrar dos filhos de Minas Gerais que para aqui vieram. 
        Pois Geraldo também deixou lembranças. Na verdade, ele ficava bravo, com duas pedras nas mãos, pronto para o atrito com os meninos da praça. Mas tinha momentos diferentes. 
        Por exemplo, quando chegava a Franca o inspetor da rádio PRB-5, José Reynaldo Nascimento Falleiros, o Garcia Neto (pseudônimo adotado em homenagem ao avô), seu "compadre". Pessoa especial, que sabia entender Geraldo. Nunca o chamava pelo nome, muito menos pelo apelido. Era sempre aquela voz imponente chamando "Compadre". 
        E Geraldo deixava de lado as pedras, esquecia os meninos, vinha em direção a Garcia com um meio sorriso, feliz, pois sabia que chegara o amigo, pessoa que lhe dava atenção. Os dois seguiam diante dos olhos admirados das pessoas, seguiam para tomar um cafezinho, ou o pingado leite com pão e manteiga, no Café Globo, no Francafé ou Pão Gostoso. Depois o jantar, geralmente no Pajé, onde estava sempre solícito Fause Abud, que os recebia.

        A vida era assim, simples, na cidade que acolhia a todos que chegavam para trabalhar geralmente nas indústrias de calçados ou nas lavouras de café. Eram aproximadamente 120.000 habitantes, não existia parque Vicente Leporacce nem jardim Aeroporto de hoje. 

        Essa gente simples fez da Franca uma cidade admirada e de grande conceito, com a marca de gente do trabalho. Havia também outras personalidades que circulavam pelas praças do centro, como Maria Capotinha, Luzia, Sissiá e Toinzinho Pulim, também deficientes. 

        Geralmente todas pessoas gostavam deles, ofereciam um café, um lanche, ou um paletó, pois fazia muito frio, um ambiente amistoso e acolhedor. O compositor e cantor Romualdo Carloni, um dia escreveu uma composição dedicada a Geraldo, "Eu sou da Franca, Sim Senhor, sou daqui e não vou negar, a praça principal é a Barão, o dia começa na contramão, estou falando do Geraldo, o Pelotão". Hoje tudo mudou, a cidade tem mais de 360.000 habitantes, continua sendo reconhecida. Mas o ritmo da vida atual provocou grandes alterações, aquelas pessoas simples pertencem ao passado já distante, de lembranças.  

Crônica Publicada em 11 de dezembro de 2021 

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